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PARCERIA
O treinador Turid Buvik acompanha o border collie
Jippi, que fareja vazamentos a 5 km de distância

Eles não têm culpa pelo aquecimento global, mas, cada vez mais, os bichos são convocados para reparar os estragos feitos pelo homem. Para tanto, lobos, macacos, tartarugas e ratos já foram estudados em laboratório ou partiram em missões suicidas para atenuar a destruição do planeta (leia abaixo). Os mais novos membros desse clube de animais salva-vidas são os cães. No focinho deles pode estar
a solução para manter protegida toda a fauna marítima no Ártico.

Essa região do Polo Norte é rica em um petróleo bem mais difícil de minar do que o do pré-sal brasileiro. Prospectar em superfícies geladas exige as mais modernas tecnologias de perfuração e envolve muitos riscos. Um dos mais preocupantes são os vazamentos, bem mais difíceis de ser contidos quando é preciso atravessar camadas quilométricas de gelo para estancá-los. Num evento desses, rapidez é fundamental. Cientes disso, cinco das maiores empresas petrolíferas do mundo – a italiana Agip, as americanas ConocoPhillips e Chevron, a britânica Shell e a francesa Total – juntaram borderôs para bancar uma pesquisa que apresentasse o meio mais eficiente de diagnosticar um vazamento sob o gelo no menor tempo possível.

A empresa escolhida para tocar o experimento foi a norueguesa Sintef, que já sabia da inexistência de uma máquina capaz de realizar esse tipo de trabalho. Assim, em associação com a também norueguesa escola de cães Trondheim, a Sintef começou a investigar até que ponto o faro canino poderia ser a melhor ferramenta. Os border collies Jippi e Blues e a dachshund Tara foram treinados ainda em solo norueguês para detectar vazamentos e ajudar no diagnóstico da dimensão que a mancha de óleo estiver ocupando. Levados ao Ártico, eles conseguiram, com o vento a favor, captar o cheiro de petróleo a até cinco quilômetros de distância.

“Eles são a melhor saída hoje. Afinal, cães não precisam de baterias para funcionar, o que é uma vantagem inigualável num ambiente remoto e hostil como o do Ártico”, diz Per Johan Brandvik, pesquisador sênior da Sintef e um dos responsáveis pelo trabalho de campo. Segundo ele, para fazer parte dessa tropa de elite canina, o animal deve ser confiante e capaz de trabalhar nas mais variadas condições climáticas, além de não estranhar ser transportado em aviões, barcos ou snowmobiles. Experiência anterior com treinamento de resgate diminui o tempo de aprendizado. “Precisamos de uns três anos para preparar um cão completamente destreinado”, conta Brandvik.

Nem tudo é fofo nessa história de levar bichos para o Ártico. Para grupos preocupados com o ambiente, essa pesquisa nem deveria acontecer. E não é por conta dos cãezinhos. “Esse trabalho é um exemplo de como ainda não temos tecnologia e ciência para perfurar na região”, afirmou por e-mail Marilyn Heiman, diretora do programa para o Ártico do Pew Environment Group, dos EUA. Apesar de protestos como esse, os ambientalistas sabem como é difícil frear as perfuratrizes das maiores petrolíferas do mundo.
E, por enquanto, a arma mais eficaz contra a fúria delas é o faro dos nossos melhores amigos. 

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