COPACABANA Amendoeiras enfeitam a orla. Elas vieram da Ásia Central

Verdes, bonitas e de aparência inofensiva, as plantas também podem ser ecologicamente incorretas – as chamadas "invasoras", por exemplo, representam a segunda maior causa de destruição da biodiversidade do planeta, perdendo apenas para o desmatamento. Só para se ter parâmetro da sua agressividade, segundo os especialistas elas são mais predadoras do que o aquecimento global. Trata-se de espécies exóticas, trazidas de outros países, que plantadas em um novo habitat passam a destruir a flora e a fauna nativas. Livres de "adversários", elas vão se alastrando até virarem praga.

Mas quem poderia desconfiar de uma jaqueira, de uma amendoeira ou de um bambuzal? Plantas invasoras como essas estão agora chamando a atenção do governo federal e de Secretarias do Meio Ambiente de todo o País. Crescem as constatações de que ameaçam a flora causando, juntamente com alguns animais, um prejuízo anual superior a R$ 100 milhões. Para atacar o problema, o Ministério do Meio Ambiente está elaborando uma estratégia para combatê-las que deve ser colocada em prática no ano que vem.

"Precisamos prevenir a introdução dessas plantas, detectar precocemente a sua presença para erradicá- las a tempo ou controlar o seu crescimento", diz Lidio Coradin, coordenador da Câmara Técnica Permanente de Espécies Exóticas e Invasoras, órgão vinculado ao ministério.

Uma lista preliminar já tachou 542 seres vivos de "exóticos e invasores" no Brasil, e cerca de 100 deles são plantas que incluem, entre outras, a braquiária, a casuarina, a amendoeira, o amarelinho e a maria-sem-vergonha. O Ministério do Meio Ambiente também lançará um livro reunindo dados sobre as espécies invasoras marinhas.

Depois virão outros volumes, mostrando as vilãs dos rios, do meio terrestre, do sistema de produção agrícola e da saúde humana – isso se dá no momento em que diversos Estados também se ocupam do problema, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. O Paraná lançou uma estratégia oficial de enfrentamento após inventariar 109 exemplares, 44 deles vegetais.

Entre esses maiores inimigos se encontram o capim anone (um tipo de grama trazida da África do Sul que se alastra pelos campos, domina a terra e prejudica a dentição dos animais) e o pínus (espécie de pinheiro importado da América do Norte). "O capim anone tem de ser exterminado", diz Vitor Hugo Burko, presidente do Instituto Ambiental do Paraná. "No caso do pínus, vamos orientar as pessoas a tomar medidas de controle, como derrubar a árvore quando ela ainda está nascendo."

Quando se comemorou o Dia da Mata Atlântica (27 de maio), a Secretaria de Estado do Ambiente do Rio recebeu de pesquisadores um rol de 226 espécies invasoras da flora local. "Queremos que sirva como critério para barrar a sua entrada e o seu plantio", diz Alba Simon, superintendente de Biodiversidade da secretaria.

Entre as principais ameaças identificadas está a jaqueira – que, ao contrário do que muitos julgam, não é um exemplar original. Trazida da Ásia durante a colonização, foi se proliferando aos poucos e hoje ocupa o lugar de outras espécies nativas nos parques e reservas do Rio, como a Floresta da Tijuca.

Em Ilha Grande, os pesquisadores realizaram um estudo para avaliar o perigo. "Em um único hectare de floresta, encontramos 283 jaqueiras. Não era para se encontrar nenhuma", diz Alba. Com o aumento da população de pés de jaca, roedores como gambás e esquilos passam a se alimentar somente dessa fruta, dispersando as sementes e agravando o problema. Para tentar minimizar a sua expansão, técnicos ligados à secretaria recorreram a uma medida qualificada por alguns como cruel: eliminaram alguns exemplares por anelamento, ou seja, retiraram parte da casca para impedir a condução de seiva para as raízes. Isso faz com que a árvore morra lentamente.

A proposta e o método geraram protestos da população, acostumada que está a conviver com as jaqueiras. "Enfrentamos diversos embates ideológicos porque estamos matando ser vivo. Mas temos o dever legal de proteger a biodiversidade", diz a superintendente de Biodiversidade, que pretende estudar sistemas menos agressivos – por exemplo, evitar que elas brotem. Segundo especialistas, o homem, desavisado do estrago que pode estar fazendo ao ambiente, acaba sendo responsável pela introdução de 70% das espécies invasoras.

Uma forma de disseminação é o uso dessas árvores exóticas no paisagismo urbano – tradição brasileira que começou com a corte portuguesa, foi alterada na década de 1920 por paisagistas como Burle Marx (que preferiam as exóticas tropicais), mas que agora começa a ser revista. No Rio, a amendoeira, vinda da Ásia Central, e a casuarina, importada da Austrália, enfeitam a orla como se fossem naturais dela. Já dão sinais, no entanto, de que estão se espalhando pela encosta.

O arquiteto e paisagista Adílson Roque dos Santos, da Fundação Parques e Jardins, responsável pela arborização da cidade, identificou que 67% das espécies plantadas na zona urbana do Rio vieram de fora. "Hoje estamos usando menos árvores exóticas, mas temos de radicalizar esse processo e plantar apenas espécies nativas", diz ele. Volta e meia, é chamado de xenófobo botânico.

    
MARIA-SEM-VERGONHA

Também conhecida como beijo, veio da África para ser usada como ornamento. Propaga-se rapidamente. Domina sobretudo as áreas de sombra e ambientes úmidos, deslocando as plantas nativas e infestando as lavouras

BAMBU

O tipo mais conhecido dessa planta é o vulgaris, um agressivo invasor. Utilizado na delimitação de propriedades e como quebra-vento natural, ele se espalha e invade o habitat de outras espécies. Existe em todo o País

JAMBEIRA

Proveniente da Ásia, essa planta invade bosques, alterando completamente o equilíbrio da vegetação nativa. É uma das maiores predadoras da Mata Atlântica

CASUARINA

Ela ocupa solos de baixa fertilidade, como dunas e praias. Forma um sombreado denso e altera as condições de luz, temperatura e química da terra. A casuarina pode afetar o homem, provocando irritação respiratória e nos olhos