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Em 2004, o empresário angolano Sindika Dokolo concretizou um negócio que gerou um dos maiores acervos de arte contemporânea africana do mundo. Dokolo uniu ao seu acervo cerca de 400 obras adquiridas de um colecionador alemão, ação que resultou na criação da Fundação Sindika Dokolo, localizada em Luanda, Angola. A fundação, que hoje conta com cerca de 3.200 obras de artistas africanos e de outras partes do mundo, ficou a cargo da criação do primeiro pavilhão africano na Bienal de Veneza de 2007 e é responsável pela Trienal de Luanda, que se tornou um dos maiores eventos do calendário artístico africano.

A exposição “Transit” traz agora ao Brasil um recorte dessa coleção que rodará o Brasil durante dois anos, começando por Salvador. Em cartaz no Museu de Arte Moderna da Bahia, a mostra tem curadoria do baiano Daniel Rangel e do vice-diretor da Fundação Sindika Dokolo, o curador e crítico de arte angolano Fernando Alvim. São 25 obras de destacados artistas africanos, mas também de artistas americanos e europeus que dialogam com a tradição artística africana. Esse é o caso das obras do bailarino e artista americano Nick Cave (foto), cujo trabalho consiste na criação de vestimentas performáticas que remetem aos trajes cerimoniais das religiões afros. “O nosso objetivo é montar uma coleção africana de arte contemporânea. Isso não significa que todos os artistas devam ter essa origem. Nosso ponto de partida, porém, é a África. A questão africana não é exclusiva do continente”, afirma o curador Alvim.

A meta da exposição é, portanto, estabelecer diálogos culturais. Isso acontece nas obras do artista Yinka Shonibare, inglês que vive na Nigéria e cujas obras exploram a questão colonialista, utilizando como tema principal o vestuário. Em relação às obras de Nick Cave, que é afrodescendente, podem-se perceber as diferentes perspectivas sobre as subjetividades culturais africanas. Cave possui uma visão voltada para o imaginário de suas raízes, enquanto Shonibare trabalha a herança colonial. “Há uma espécie de reciprocidade nas obras. Os artistas de outros continentes exercem influência no trabalho de africanos, mas também percebemos a inspiração afro no trabalho desses artistas de fora”, explica Alvim. Após Salvador, a exposição “Transit” seguirá para Brasília.