i117949.jpg

RIGOR Nova prova exigirá mais raciocínio que os antigos vestibulares

O ano de 2009 marca uma grande mudança no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Reformulado, o teste, previsto para ser aplicado no segundo semestre, deixa de ser apenas um termômetro do ensino colegial no País para ocupar lugar de destaque nos processos seletivos de concorridas universidades. Com apoio do Ministério da Educação, 22 das 55 instituições de ensino superior federais já substituíram seus tradicionais vestibulares pela prova e outras 14 incluíram o exame como parte de seus processos de avaliação.

"Inicialmente as faculdades estavam desconfiadas da capacidade de seleção da prova que criaríamos", diz Reynaldo Fernandes, presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem. "Mas, na medida em que desenhamos o novo exame, conquistamos as grandes escolas. Estamos surpresos com tantas adesões", comemora.

i117950.jpg

Desde que foi criado, em 1998, o Enem centrou suas cobranças na capacidade de o aluno organizar informações, compreender textos e ler gráficos. Antes de medir a apreensão do conteúdo passado no ensino médio, a prova tinha a função de avaliar a capacidade de raciocínio de quem se submetia a ela. "O Enem privilegiava a interpretação e deixava o conteúdo em segundo plano", afirma Alessandra Venturi, coordenadora pedagógica do Cursinho da Poli, em São Paulo. "No outro extremo estavam os vestibulares, que muitas vezes só cobravam conteúdo e deixavam o raciocínio de lado." Para ela, o novo Enem surge como um meio-termo: ele não será o conjunto desconexo de 63 questões que compunham o antigo exame nem um apanhado de testes engessados por disciplinas que não dialogam entre si, caso da maioria dos vestibulares aplicados nas últimas décadas.

i117951.jpg

Para equacionar todas essas variáveis, o Inep deu ao Novo Enem um formato que, de início, assusta. São 200 questões de múltipla escolha, divididas em quatro categorias fluidas: linguagens, códigos e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias e matemáticas e suas tecnologias, além de uma redação. A prova será aplicada em dois dias, sendo o primeiro com 5 horas de duração e o segundo com 6h30 – 1h30 a mais para acomodar a redação. "A memorização continua valendo, mas, quando cobrada, exige raciocínio com a informação memorizada", explica Fernandes, do Inep. "É uma prova rigorosa", reconhece. E terá de ser, afirmam os especialistas, já que o Enem, além de funcionar como vestibular para algumas das faculdades mais disputadas do País, continua como critério de seleção de bolsistas do Programa Universidade para Todos (ProUni), que subsidia o ensino superior em escolas particulares. "Mas existe a possibilidade de redução no número de questões para 180 ou até 160", afirma Fernandes.

 

Tantas mudanças têm impacto sobre os vestibulandos de 2009. A ansiedade e a insegurança naturais dessa fase estão mais fortes do que nunca. "Afinal, quando sai do ensino médio, o aluno tem 17 anos", diz Neide Noffs, diretora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para ela, o Enem melhorou, mas ainda joga sobre o adolescente a responsabilidade por todas as falhas dos ensinos fundamental e médio. "Os professores do colegial e os candidatos deveriam ter tido pelo menos um ano para assimilar as mudanças", argumenta. De maneira geral, o Enem 2009 trará benefícios. Estudantes poderão se candidatar a cinco universidades diferentes com a mesma prova. Isso deve poupá-los do desgaste que é a maratona de vestibulares de fim de ano, além de permitir que candidatos de diferentes Estados disputem vagas em pé de igualdade. Para o Ministério da Educação, a adoção do novo exame como vestibular também terá reflexos no ensino médio. Por exigir menos decoreba, se comparado aos tradicionais vestibulares, ele não engessará os últimos anos do ensino médio como época de dirigir os estudos apenas para entrar em uma faculdade. É esperar para ver.

i117953.jpg