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Enquanto os Estados Unidos e a Europa continuam a sofrer os males de uma recessão profunda que ameaça se prolongar, o Brasil nada contra a maré internacional e volta a atrair investimentos. Como tem dito o ex-ministro Delfim Neto, o Brasil é "o peru com farofa" do mercado financeiro. A força do consumo interno, que ajudou o País a resistir aos momentos mais agudos da crise, mostra que o pior já passou para a economia brasileira. A visão que se tem do Brasil é clara: o País tem o sétimo mercado consumidor do mundo e só tende a avançar, pois apenas 35% da população participa da chamada "sociedade de consumo". O risco-país está em 306 pontos, contra a média de 471 das economias emergentes. Tudo isso explica a enxurrada de investimentos estrangeiros, que provocou a desvalorização do dólar para R$ 2, o menor valor nos últimos sete meses. Dados do Banco Central indicam que a entrada de investimento estrangeiro direto em abril mais que dobrou em relação a março, somando US$ 3,4 bilhões. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, nega que esse movimento seja efeito dos juros altos praticados no Brasil.

"Não. Os números mostram que, até agora, a entrada de dólares tem sido gerada pela retomada do crédito, o aumento das aplicações em bolsa e o investimento direto", diz Meirelles. "Estes investidores apontam que o Brasil vai superar a crise."

A equipe econômica reconhece que o País passou momentos difíceis no fim de 2008 e no começo deste ano, mas prefere não perder tempo com o que vê pelo retrovisor. O otimismo em relação ao futuro tomou conta do governo. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apesar da face negativa da apreciação do real, que é a queda na competitividade das exportações, a valorização do câmbio é prova de que o Brasil está se refazendo. "A confiança no País nos ajuda a sair mais rapidamente da crise", diz Mantega. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, garante que o Brasil não perdeu sua capacidade de receber investimentos. Apesar do agravamento da crise internacional, a expansão do crédito no Brasil foi de 25% nos últimos 12 meses, o que se refletiu na ampliação de projetos no setor petroquímico e no de produção de petróleo e gás. Segundo ele, os desembolsos do banco já somam mais de R$ 25 bilhões, com outros R$ 28 bilhões em projetos aprovados. "Levantamentos demonstram que os setores ligados à infraestrutura, em especial à geração de energia, também possuem boas perspectivas de crescimento", afirma Coutinho.

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O projeto empresarial que recebeu o maior crédito no primeiro trimestre de 2009 no mundo é brasileiro, de acordo com a consultoria internacional Dealogic, especializada em mercado de investimentos. Trata-se do projeto Santo Antônio Energia, que captou R$ 6,2 bilhões para a construção da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia. O empreendimento, que tem entre seus acionistas a Odebrecht e Furnas, é encabeçado pelos bancos Banif, de Portugal, e Santander, da Espanha. Também numa aposta de que o mercado interno voltará a se aquecer, a maior operadora de contêineres da América do Sul, a Santos Brasil Participações, decidiu retomar as obras de expansão do seu terminal em Santa Catarina e comprou seis novos portêineres (guindaste sobre trilhos que percorrem o costado do navio), uma novidade na América Latina. "Estamos pautados em uma possível retomada da economia", diz Washington Kao, diretor financeiro da Santos Brasil. A empresa ampliou sua previsão de investimentos de R$ 150 milhões para R$ 190 milhões e faz questão de ressaltar que nesta conta não entram as eventuais aquisições.

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O vento, de fato, está soprando a favor do Brasil. O índice de confiança dos consumidores, calculado pela FGV, avançou 1,3%. O volume de crédito pessoal subiu 22% e a taxa de juros dos bancos comerciais tem caído, sob pressão do governo. Esses dados tornam o País uma ilha de prosperidade para os investidores estrangeiros, sem opções em seus mercados de origem. "As pessoas se esqueceram que agora, em maio, fez um ano que o Brasil conquistou o grau de investimento", lembra o professor e consultor da FGV/SP Robson Gonçalves. "Com a poeira baixando, o Brasil volta a colher os frutos disso, principalmente com a aversão ao risco voltando aos patamares normais."