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RESISTÊNCIA
Mulheres protestam após marcha semanal
em Havana, por mais liberdade na ilha

O dia mal tinha amanhecido na quarta-feira 28, em meio à visita de três dias do papa Bento XVI a Cuba, quando Laura Labrada Pollán e Alejandrina García de la Riva foram detidas por agentes de segurança do Estado. Ninguém sabe para onde as duas foram levadas. Seu paradeiro passou a ser tão misterioso quanto o de Berta Soler, líder do movimento dissidente conhecido como Damas de Branco. As prisões seguiam-se a uma série de reações do governo que vinha desde o fim de semana anterior e já privara da liberdade mais de 70 opositores do regime dos irmãos Castro. O grupo, criado em março de 2003 pelas mulheres e filhas de 75 presos políticos, é hoje o principal movimento contra a ditadura cubana. “Não nos formamos como grupo opositor nem representando partido ou estrutura política alguma, só reclamamos justiça”, dizem as Damas em seu site oficial. Todo domingo, mulheres vindas do país inteiro se reúnem com roupas brancas e flores nas mãos na paróquia de Santa Rita, em Havana, e caminham silenciosamente por 12 quarteirões da Quinta Avenida. Ao final do roteiro, pedem liberdade.

Deu certo. Em 2010, uma negociação inédita entre a Igreja Católica, mediada pelo cardeal Jaime Ortega, e os líderes do governo resultou na libertação de todos os familiares das Damas de Branco. A maioria se exilou na Espanha. Ainda assim, as mulheres seguiram na luta pelos direitos humanos e pela libertação de outros presos políticos. Ao não se calar, sofreram com prisões temporárias (acusadas, por exemplo, de atentar contra a soberania do país e promover a desobediência civil), enfrentamentos com apoiadores do governo e constrangimentos públicos, como a acusação de serem “mercenárias”. O grupo já admitiu receber doações dos Estados Unidos. Na semana passada, as ativistas apelaram por “um minuto e nada mais” ao lado do papa. A esperança se justificava pela visita do papa João Paulo II, em 1998, que clamou pela libertação de um dissidente. Mas, desta vez, foi diferente. Se durante a viagem ao México Bento XVI arriscou dizer que a ideologia marxista não corresponde mais à realidade, ao desembarcar no aeroporto de Santiago de Cuba, onde nenhum fiel o esperava, arrefeceu o discurso. Falou apenas da “construção de uma sociedade aberta e renovada” e suplicou “pelas necessidades dos que sofrem, dos que estão privados de liberdade, separados de seus entes queridos”.

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