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ASSÉDIO No Congresso, Palocci está no foco das atenções

A partir da quinta-feira 4, confirmada a expectativa de uma manifestação do STF que o inocente sobre o episódio envolvendo a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o deputado Antônio Palocci (PT) retorna ao xadrez político na condição de um forte protagonista das eleições em 2010. No PT e no meio empresarial, Palocci é considerado o principal nome para concorrer à sucessão estadual em São Paulo.

O ex-ministro da Fazenda também é lembrado para suceder Lula na Presidência da República, no caso de eventual malogro da pré-candidatura de Dilma Rousseff. Temendo afrontar os ministros do STF, às vésperas do julgamento, Palocci tem evitado tratar abertamente do seu destino político. Mas em entrevista à ISTOÉ, na quarta-feira 27, não descartou suas possibilidades eleitorais. "Falta um ano e meio para as eleições, muita coisa vai acontecer, mas é claro que não vou fechar portas para candidaturas", disse Palocci.

Apesar de se mover com a discrição que lhe é característica, ele incrementou sua agenda no eixo Brasília- São Paulo nos dias que antecederam a semana decisiva no STF. No roteiro, encontros com correligionários em Ribeirão Preto, reuniões políticas e palestras na capital paulista, além de jantares com banqueiros e executivos de empresas como Grupo Gerdau, Volkswagen e TAM. ISTOÉ acompanhou sua agenda em Brasília no dia 27. Pela manhã, o ex-ministro da Fazenda foi o político mais assediado durante evento na Câmara destinado a discutir alternativas à crise econômica.

Acomodado na primeira fila de assentos da Casa, Palocci foi cumprimentado por nomes expressivos da indústria nacional, como Jorge Gerdau, Roberto Giannetti da Fonseca, diretor da Fiesp e presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), e Paulo Godoy, da Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), além de deputados e ex-ministros. Também não faltou tietagem. Uma jovem visitante pediu para tirar uma foto ao seu lado. Palocci, então, mostrou que, além do bom diálogo com o empresariado, tem jogo de cintura. Abriu um sorriso e atendeu ao pedido da moça de pronto.

Ao fim do evento, sobrou tempo para um longo bate-papo ao pé do ouvido com Jorge Gerdau, o maior produtor de aço do continente americano. Questionado por ISTOÉ sobre uma possível candidatura do parlamentar em 2010, Gerdau disse que Palocci se notabiliza por ter um perfil "diferenciado". "Ele é muito competente, além de possuir uma característica que poucos têm: bom senso", disse o empresário. No mesmo dia, Palocci participou à tarde da cerimônia em homenagem ao ministro do Tribunal de Contas da União Marcos Vilaça, realizada na sede provisória da Presidência, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Numa roda em que estavam o presidente Lula e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, Palocci ouviu o vaticínio que permeia a mente da maioria dos políticos em Brasília. "Em 2011, você no governo de São Paulo e eu no do Rio, hein?", previu Cabral. "Vamos paparicar muito o presidente da Petrobras", brincou o governador, numa referência a Lula, que falou, em tom de brincadeira, sobre a possibilidade de assumir a estatal em conversa com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Nos bastidores, aliados de Palocci no PT já têm feito movimentos mais vigorosos de olho na volta do antigo homem forte do governo Lula à cena política. A pedido do PT, um instituto de pesquisa prepara uma sondagem, no plano nacional e local, para aferir a aceitação do nome de Palocci pelo eleitorado. Numa reunião, no começo do mês em São Paulo, em que estavam presentes dirigentes do PT paulista, entre eles a ex-prefeita Marta Suplicy, algumas hipóteses de slogans para a campanha de Palocci foram sugeridas. Entre elas: "Palocci, competência tem nome", "São Paulo no caminho do desenvolvimento" e "O homem da estabilidade econômica agora a serviço de São Paulo".

"Ele é muito competente, além de possuir uma característica que poucos têm: bom senso"
Jorge Gerdau, empresário

Os principais defensores da candidatura de palocci ao governo do estado são os deputados petistas Carlos Zarattini e Devanir Ribeiro. Cabe a eles a aglutinação da militância petista em torno do nome do ex-ministro. A tarefa tem sido posta em prática durante as caravanas do PT por cidades paulistas, como Santos e Osasco. "A campanha tem que ir já para as ruas", defende Zarattini. "Não podemos perder tempo", faz coro Devanir.

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A candidatura do ex-ministro ao governo de São Paulo também tem as digitais de Lula. No dia 2 de março, durante um voo de Campinas para Brasília, o presidente fez questão de tornar público o seu apoio ao exministro, ao qual continua a recorrer sobre temas da economia. "O Palocci é o nosso nome. É conciliador, consegue dialogar com a classe média, transita bem com o empresariado paulista e ainda sabe lidar com a população", disse Lula numa conversa com o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante. Zarattini nega que, durante os debates com os petistas, o nome de Palocci já tenha sido imposto como candidato.

Lembra que o partido tem vários nomes fortes, como o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e até Marta Suplicy. Mas enfatiza: "Assim que Palocci for oficializado como candidato, automaticamente se formará uma grande unidade em torno dele." Para sábado 30, estava previsto um encontro do PT em Ribeirão Preto, cidade que Palocci administrou em duas ocasiões (1992-1996 e 2000- 2002). A expectativa era de que Palocci fosse a grande estrela do evento. Um bom termômetro para medir a popularidade do petista.

"Assim que Palocci for oficializado candidato, se formará uma grande unidade em torno dele"
Carlos Zarattini, deputado federal pelo PT

 

O projeto paulista de Ciro

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ALTERNATIVA

Em 2002 Ciro Gomes conquistou 11% dos votos em São Paulo. Hoje, pesquisas indicam que ele começaria a campanha com 15%

No início de maio, dias antes de embarcar para Harvard, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) deu sinal verde para que alguns parlamentares representantes do chamado bloco de esquerda usassem seu nome em uma reunião feita para discutir a sucessão ao governo paulista. Márcio França (PSB-SP), Paulinho (PDT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) reuniram-se em 6 de maio com os petistas Cândido Vaccarezza, Jilmar Tatto, José Mentor e Devanir Ribeiro.

Na pauta do encontro estava a busca de um entendimento entre os quatro partidos em torno de um candidato único capaz de tirar o PSDB do Palácio dos Bandeirantes, comandada pelos tucanos desde 1995. "Precisamos de um nome muito forte, que entre na disputa com chances reais de vitória, senão será difícil se opor à pressão que o governador Serra tem feito", disse Rebelo, segundo um dos participantes da reunião.

Coube a Márcio França colocar na mesa o nome de Ciro Gomes. França argumentou que na campanha presidencial de 2002 Ciro obteve 11% dos votos válidos em São Paulo. Disse ainda que pesquisas não totalmente fechadas apontam que hoje Ciro largaria com cerca de 15%. "Certamente, hoje Ciro Gomes seria o pré-candidato que mais se aproxima de Geraldo Alckmin", disse França.

A articulação em torno de Ciro Gomes, que já manifestou disposição de mudar seu domicílio eleitoral, antecede a reunião e conta com a simpatia do presidente Lula. Líderes nacionais do PT já conversaram sobre essa alternativa com dirigentes do PSB, e petistas ligados ao presidente Lula, como o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, não descartam a hipótese de o partido abrir mão da candidatura a governador, caso se construa uma forte aliança. Isso, se Palocci não for candidato.

Na reunião de 6 de maio, os deputados definiram que o nome de Ciro Gomes será colocado aos eleitores de São Paulo em uma pesquisa, que deverá ser finalizada nesta semana. Caso o resultado seja semelhante ao que foi exposto pelo PSB, a alternativa Ciro ganhará musculatura.