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ESTILO MINEIRO A interlocutores, Serra não diz sim nem não, mas articula palanques nos Estados

No confortável gabinete instalado no segundo andar do Palácio dos Bandeirantes, o governador paulista, José Serra, atende de cinco a seis telefonemas por dia com apelos para que oficialize sua candidatura à sucessão presidencial. Os interlocutores, na grande maioria, são líderes nacionais e regionais do PSDB e do DEM. Alguns do PMDB. A eles, o governador responde como mineiro. Não nega o desejo de se mudar para Brasília, mas afirma que não chegou a hora de agendar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, dependendo de quem esteja do outro lado da linha, prolonga a prosa por alguns minutos, especulando sobre possíveis palanques nos Estados.

O diálogo é sempre finalizado com Serra dizendo que há muito a fazer por São Paulo. O governador, no entanto, já está em campanha. E caberá exclusivamente a ele definir a hora em que colocará as bandeiras nas ruas. "O político deve ter o faro e a argúcia para traçar o timing exato de suas ações", diz o sociólogo Antônio Lavareda, especialista em pesquisas eleitorais.

Faro e argúcia são atributos que não faltam a José Serra. Nos últimos meses, ele tem conseguido ser candidato sem lançar candidatura. "Aonde quer que Serra chegue, todo mundo sabe que ele é candidato", confirma à ISTOÉ o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). De fato, todos sabem que Serra é candidato, mas, como ele não se declara candidato, não pode ser oficialmente tratado como candidato.

Trata-se de uma pensada estratégia da indecisão, que tem rendido bons frutos. Um bom exemplo foi o acordo selado na segunda-feira 15, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo qual a União elevou o nível de endividamento do Estado de São Paulo de R$ 10,2 bilhões para R$ 11,6 bilhões. Desse total, já foram investidos R$ 5 bilhões e os R$ 6,6 bilhões restantes serão contratados até 2010.

Ao firmar o compromisso com Mantega, Serra fez questão de ressaltar sua boa convivência com o presidente Lula, com quem havia acertado os detalhes do empréstimo em audiência em Brasília. "Temos tido uma relação de cooperação com o governo do presidente Lula, em matéria administrativa, muito boa. Não tem tido nenhuma discriminação em relação a São Paulo. Há uma interação positiva", destacou. Se Serra fosse candidato declarado, certamente seria mais difícil a obtenção do empréstimo ainda em 2009.

Na opinião dos especialistas em marketing político, o bom relacionamento com Lula é uma pedra angular na estratégia de Serra. O financiamento de grandes obras públicas vai permitir que ele deixe uma marca de grande tocador de obras em São Paulo, justamente o maior colégio eleitoral do País. Os investimentos, principalmente em rodovias, começam a maturar, mas o auge das inaugurações ocorrerá exatamente em 2010. "Agora as obras de Serra começam a aparecer", comemora o tucano Guerra. "E vem muito mais por aí." O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, concorda que o retorno das obras vai pesar no futuro: "Serra está fazendo um bom governo em São Paulo. Isso é o que conta na hora da definição eleitoral."