Políticos de todas as colorações partidárias se mostraram estarrecidos na semana passada quando vieram a público cenas de corrupção explícita que, sabem eles, desde sempre, são corriqueiras. Ao que tudo indica, a indignação só é exibida por esses senhores quando o malfeito surge pilhado em flagrante e em cores vivas da televisão. E com a ausência de seus colaboradores diretos entre os envolvidos. Nessas circunstâncias, o jogo de encenação se estabelece no afã de conquistar a audiência e o voto do cidadão eleitor – esse sim o verdadeiro lesado. Do contrário, abafam o caso, como aconteceu inúmeras vezes. Raríssimos são os registros de consequências práticas com apuração rigorosa e punição dos culpados. Seria muito bom que caísse a máscara da hipocrisia em situações como essa. Não é surpresa para ninguém, muito menos para os nobres parlamentares, a instituição quase como praxe dos 10% de propina na maioria dos órgãos e esferas da administração pública do País. Como disse uma das protagonistas da armação mostrada pela TV Globo, “é a ética do mercado”. Decerto, centenas de esquemas, fraudes e desvios, movimentando bilhões de reais, são descobertas todos os anos sem que a devida condenação dos responsáveis venha a reboque. O que foi feito em décadas pelas autoridades para mudar esse estado de coisas? E o que efetivamente acontecerá com esses quadrilheiros que acabam de aparecer corrompendo em horário nobre? E o que dizer dos funcionários públicos que em outros contratos com essas mesmas empresas aceitaram partilhar o resultado do butim? O brasileiro comum, que paga impostos, tem a resposta na ponta da língua. E os políticos, por sua vez, não mostram nenhum pudor em assumir papéis de mocinhos revoltados, armados com balas de festim para um combate fictício contra os criminosos. A bandalheira é parte do sistema graças, em boa parte, a essa falta de seriedade com o assunto. Os arautos do Legislativo que gritam por CPI e exigem investigação exemplar são os mesmos que praticam a política desavergonhada do chantagismo barato, do toma lá dá cá por cargos no Executivo, numa prática de fisiologismo desprezível. Alguns desses mesmos congressistas – como revela ISTOÉ em reportagem a partir da página 46 desta edição – estão driblando o Fisco com manipulações de rendimentos e sonegação. Com que moral eles podem encarar o gigantesco trabalho de varrer, ou ao menos diminuir, a corrupção no País?