img.jpg
CORPO E AÇO
Performance de Paula Garcia, que usa ímãs e resíduos em suas “ações”

Diante da plateia atenta do museu Jeu de Paume, em Paris, a artista cubana Tania Bruguera fala sobre a ineficácia da arte. Ela é radical. Faz uma pausa, pega um revólver, carrega-o com uma bala de verdade e encosta-a na cabeça. Agora, além de atento, o público está tenso e atônito. A roleta russa pontua toda a sua explanação. Tania chega ao fim. Viva. Intitulada “Self Sabotage”, essa performance não foi concebida para ser documentada. Um espectador, no entanto, gravou o ato e o postou no YouTube: é o único registro conhecido de uma obra feita para durar não mais que um momento. São imagens de impacto que abrem o documentário “Shoot Yourself”, da editora da revista “SeLecT”, Paula Alzugaray e do cineasta Ricardo van Steen, que estreia no Festival É Tudo Verdade (Rio de Janeiro e São Paulo, até 5/4). “A metáfora da câmera como arma nos deu também o título do filme”, diz Paula, que entrevistou Tania durante uma residência artística no Centre International D’Acueill et D’Echanges des Récollets.

Além da performer cubana, o filme reúne oito artistas entre brasileiros e estrangeiros – nomes como do americano Gary Hill, da iraniana Ghazel e do pichador paulista Cripta Djan, que invadiu a Bienal de São Paulo. O que une o trabalho de todos eles é o uso do corpo como instrumento do fazer artístico; o que os distancia é a forma como documentam. Alguns preferem não registrá-lo, outros usam a gravação como objeto do ato criativo. “Buscamos fazer um mapeamento da importância da câmera para a performance. O subtexto é esse: em que medida a ação deve ser mantida para a posteridade ou ir embora com o público”, diz Paula, que optou por uma seleção heterogênea de nomes da arte contemporânea.

Ao se afastar de um grupo coeso, orientado pelas mesmas práticas estéticas, o documentário promove confrontos e cria choques, segundo a diretora, que procurou desde o início misturar gerações, contextos, procedências e línguas. Essa escolha se reflete nas filmagens, variando de artista para artista. “A tônica foi romper a fronteira e dialogar com a obra do entrevistado”, diz Van Steen, que assume, assim, o lado performático do próprio documentarista.

img1.jpg