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DE OLHO NELES
Dilma promete se reunir mais frequentemente com líderes
partidários e presidentes da Câmara (à esq.) e do Senado (centro)

Na segunda-feira 12, a presidenta Dilma Rousseff teve um encontro com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), no Palácio do Planalto. Diante da chefe do Executivo, o cacique do PMDB personificava ali a crise na relação do governo com sua base aliada. Mas, apesar de não ser muito afeita ao jogo político, Dilma resolveu inaugurar uma nova fase em sua gestão. Na conversa, de cerca de uma hora, deixou clara sua decisão de, pela primeira vez desde que assumiu o comando do País, avocar para si a responsabilidade pelas negociações com o Congresso. “Quero me reunir mais com os líderes, conversar com vocês com frequência e saber como estão as coisas na Câmara e no Senado”, disse ela. “Faz tempo que os aliados sugerem esse relacionamento mais próximo. É vital para o governo uma nova postura”, ponderou o alagoano. “Pois é. A articulação agora é minha”, concluiu a presidenta.

O diálogo foi um sinal claro de que Dilma não está apenas disposta a decidir sozinha quais são suas peças-chaves no tabuleiro e quem fará parte da sua equipe. Ela está disposta também a pagar o preço das próprias resoluções, para o bem ou para o mal. A conturbada relação entre o governo e seus aliados no Congresso atingiu um ponto crítico na semana passada. Cercada por pressões de caciques e irritada com os sinais de insubordinação vindos de todos os lados, Dilma reagiu. Bem ao seu estilo, trocou os líderes da Câmara e do Senado, sem perguntar o que o mundo político achava disso. Nem Lula, o antecessor e conselheiro para todas as horas, soube. Sinal de um novo tempo no governo? Ao que parece, sim. Trata-se, porém, de uma empreitada complicada.

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CENA RARA
Dilma desceu à planície, na última semana, e ocupou a tribuna do Senado

Ao exercer o papel de articuladora política, Dilma Rousseff assume o risco de lidar com as rebeliões de aliados e põe em estado de alerta os caciques acostumados a comandar as negociações. Nos bastidores do Congresso, há um clima tenso em relação à nova fase das articulações do Planalto. Primeiro porque os aliados acreditam que apresentar faturas e cobranças que serão avalizadas pessoalmente por Dilma causará desconforto e deixará vulnerável o partido responsável pela demanda. Por outro lado, o acesso mais fácil à presidenta daria um fim aos recados indiretos, por terceiros ou pela imprensa, e às manifestações apenas simbólicas de insatisfação. Para conter as ofensivas, fruto desse novo cenário em que a presidenta vai impor sua marca e suas vontades, foram escalados dois novos líderes do governo. No Senado, assume Eduardo Braga (PMDB-AM), considerado um político disposto a crescer e ganhar a confiança da presidenta. Na Câmara, volta ao poder Arlindo Chinaglia (PT-SP), dono de perfil autoritário e conhecedor profundo dos pontos fracos de cada colega. “A ordem é negociar”, garante Chinaglia.

A missão atribuída por Dilma aos dois novos líderes do governo é árdua. Ela quer testar o poder de persuasão da dupla e, para início de conversa, Chinaglia e Braga precisam dissipar a crise instaurada nas duas Casas. A tarefa de Braga é mais complexa. Inimigo do senador Alfredo Nascimento (PR-AM), ele ascendeu ao novo posto sob o baque da saída do PR da base de apoio do governo. Irritado com o anúncio de que o ministro Paulo Sergio Passos vai continuar no comando dos Transportes, o líder da legenda, senador Blairo Maggi (MT), anunciou o racha. São menos sete votos no Senado. Cenário que deixa o governo ainda mais refém do líder do PMDB, Renan Calheiros, que reúne pelo menos 13 votos do maior partido do Senado. E Renan, ao menos por ora, integra o bloco dos insatisfeitos. O nome de Braga não foi bem recebido por ele. O senador amazonense e novo líder do governo pertence a uma ala do PMDB que sempre mediu forças com o grupo comandado pelo alagoano. Renan era alinhado com Jucá, o antecessor. Tanto que tratou de acomodá-lo na relatoria de uma das mais poderosas comissões do Senado, a do Orçamento. A decisão foi interpretada como uma forma de Renan demonstrar sua insatisfação e dar o troco.

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FIM DE LINHA
Após derrotas do governo no Congresso,
Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Romero Jucá (PMDB-RR)
deixam as lideranças da Câmara e do Senado, respectivamente

Em meio ao clima de discórdia, Dilma Rousseff começou a examinar como atender aos pedidos da base sem pôr em jogo a estrutura política e financeira que desenhou para o próprio governo. Ela já pediu a dois integrantes do primeiro escalão que façam as contas e mostrem o que pode ser feito para liberar as emendas parlamentares contingenciadas. Será um claro recuo na decisão de adiar por tempo indeterminado o pagamento de emendas por conta da crise econômica internacional. A presidenta sabe que a boa vontade dos aliados depende do que eles vão lucrar apoiando o governo. Os parlamentares contam ainda mais com as liberações de emendas em ano eleitoral, quando é preciso capitalizar obras e projetos nas cidades para eleger seus prefeitos. “O problema é que não adianta anunciar boa vontade se não agir. O momento é delicado e a presidenta precisa mudar a forma de tratar seus aliados. Acho que ela percebeu isso”, avalia Danilo Fortes (PMDB-CE), uma espécie de porta-voz dos descontentes. Para ajudar a contentar os descontentes, Dilma também espera a contribuição do vice-presidente, Michel Temer. O vice, há duas semanas, endossou manifesto do rebelado PMDB. Ao receber o prêmio Bertha Lutz, no Senado, a presidenta lançou mão da ironia ao fazer referências ao PMDB e ao vice. “A Benedita da Silva afirmou que ele (Temer) deve cuidar de mim. Eu também vou cuidar do vice-presidente Temer”, disse. “Permitam-me citar alguns resultados da redução da desigualdade de renda, de que o nosso governo – não é, vice-presidente Temer? – tem muito orgulho”, acrescentou.

O jogo político traçado pela presidenta envolve ainda as substituições nos ministérios. Antes à espera do aval dos partidos e da opinião do ex-presidente Lula, a presidenta Dilma decidiu mudar os métodos de nomeações. Vai ouvir os políticos. Mas nem tudo serão flores para eles. Dilma deixou claro que não vai ceder a ameaças e chantagens. Na quinta-feira 15, mandou suspender votações, enquanto o clima estiver pesado. Avisou ainda que, se não houver consenso sobre os nomes sugeridos com base nos currículos mais adequados para os cargos, as legendas correm o risco de perder o comando dos ministérios. O primeiro na fila é o PDT, que ainda não fechou acordo em torno de um nome para o Ministério do Trabalho. Levantou obstáculos à indicação do deputado Brizola Neto (PDT-RJ) e já vetou Vieira da Cunha (PDT-RS), opção pensada inicialmente por Dilma. “Se não resolverem isso rapidamente, a pasta pode sair das mãos do partido e ir parar nas mãos de um técnico”, avalia um assistente da presidenta. Como se vê, a nova fase da vida do Congresso, com a presidenta Dilma Rousseff no comando da articulação política, promete muita tensão no ar. Além de exigir sangue-frio e coração forte, será um teste para a superexecutiva que adquiriu, por necessidade, a habilidade de negociar com o Congresso os rumos do próprio governo.  

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