PAULO-LIMA-ABRE-1-IE.jpg
MÚSICA NA CABEÇA
Há quatro décadas, a DJ Sonia Abreu espalha positividade
através de potentes e delicadas ondas sonoras

Ela já se enfiou numa fantasia tosca de robô para se apresentar diante de milhares de pessoas com uma espécie de proto versão daquilo que hoje se conhece por música eletrônica, enfrentou todo tipo de resistência e preconceito quando resolveu se tornar a primeira DJ mulher do Brasil, virando seus LPs na extinta discoteca Papagaio Disco Clube do ainda ativo Ricardo Amaral. Foi seguidora do guru Rajneesh, da alimentação macrobiótica e vegetariana, dançava pelada diante dos espelhos de seu quarto, aprendeu a surfar de bodyboard, trabalhou com Silvio Santos em rádio, carregou seus amplificadores e caixas acústicas em ônibus, barcos e kombis para produzir festas gratuitas ao ar livre que muitos anos depois seriam batizadas de raves e, mais recentemente, de happenings, ganhou um disco de ouro com a tal música do robô (“Automatic Lover”, com Dee D Jackson), conduziu programas de rádio e ainda corre pelos parques paulistanos e anima festas de públicos e clientes tão diversos, que vão do presidente do Banco Central à convenção de uma grande empresa. Com seus cabelos descoloridos e arrepiados funcionando como antenas macias, Sonia espalha suas boas vibrações há seis décadas pelo mundo. Especialmente (mas não apenas) em forma de ondas musicais.

Merece respeito quem acredita tanto nas próprias ideias e crenças. E ainda mais aqueles que olham para a frente e para o alto com o periscópio erguido e permanentemente atento para as mudanças do cenário. Das kombis recheadas de alto-falantes, dos coretos em cima de lojas da rua Augusta, estúdios apertados de rádios alternativas ou de cabines luxuosas de festas de marajás, SoniÁbrêu (como ela prefere grafar seu nome) sempre emanou mais do que apenas boa música ou informação privilegiada. Entregou o que tem de melhor dentro dela: amor e um tônus vital dignos de um verbete no livro dos recordes. E, é certo, isto vem antes de pioneirismo, vanguarda, música, arte e tudo o mais que ela também carrega em suas incríveis e rodadas caixas de som. 

A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias