Investimento em pesquisa e presença territorial em região estratégica do planeta se somam como argumentos mais do que suficientes para a imediata reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz, destruída por incêndio há alguns dias. Carente de trabalhos científicos e acusado sistematicamente de descaso no setor de desenvolvimento tecnológico, o Brasil teve o privilégio de, há quase 30 anos, entrar como membro pleno do Tratado Antártico, que prevê atividades com fins pacíficos na região. Foi autorizado a montar sua estação. Ali formou centenas de cientistas e um acervo de estudos decisivos para entender o clima do planeta. Também veio contribuindo com o esforço global pelo crescimento sustentável do continente gelado. Ao manter sua bandeira e uma unidade de trabalho no polo austral, o Brasil lustrou a imagem e garantiu um papel importante no concerto das nações comprometidas com causas socialmente populares. Não é pouca coisa! Já os recursos necessários para recompor esse status, embora ínfimos diante do retorno alcançado, ainda não estão garantidos.

Lamentavelmente, de uns tempos para cá, o programa Proantar, que sustentava a estação, foi gradativamente encolhendo. Seu orçamento desabou de R$ 27,04 milhões em 2009 para meros R$ 11,8 milhões neste ano. A recuperação da Comandante Ferraz vai exigir, de saída, no mínimo R$ 20 milhões. É preciso resolver essa dotação extra o quanto antes. O governo Dilma está decidido a levar adiante a causa, mas vai depender do Congresso para a liberação do dinheiro. Um caminho alternativo seria o da participação efetiva da iniciativa privada, se engajando com patrocínio. De um modo ou de outro, o que é necessário evitar a qualquer custo é a repetição do triste destino dado a outro programa de pesquisa fundamental – o do Centro de Lançamento de Foguetes de Alcântara, no Maranhão –, que hoje se arrasta, nove anos após o grave acidente que explodiu sua plataforma, devido à demora na injeção de investimentos. O Brasil não pode mais deixar ao acaso esses centros de excelência.