Em abril do ano passado, a explosão de um aterro sanitário da empresa Pajoan despejou 450 mil toneladas de lixo na região de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. Em decorrência disso, diversas cidades ficaram sem coleta de lixo durante vários dias. A Cetesb, órgão ambiental do governo de São Paulo, multou a empresa e determinou o fechamento do aterro, mas até hoje, quase um ano depois, a Pajoan continua operando como se nada tivesse acontecido. Nem mesmo as multas foram pagas, porque a empresa, na sexta-feira 17, protocolou um dossiê na Cetesb pedindo a anulação das penalidades. Afinal, o Brasil é e sempre foi o país da impunidade.

Fazendo fortuna com o lixo, os donos da Pajoan, irmãos José Augusto e Luiz Augusto Cardoso, planejavam passar o Carnaval numa das praias mais luxuosas do Brasil: a Riviera de São Lourenço, em Bertioga, no litoral norte de São Paulo.

Um local maravilhoso, onde desfilam carros importados e o metro quadrado é um dos mais caros do País. Nessa mesma Riviera, adolescentes e até mesmo criancinhas mimadas dirigem seus buggys pelas ruas, em alta velocidade – sem habilitação, é claro, e sem a companhia de adultos. Afinal, são apenas crianças e o Brasil é e sempre foi o país da impunidade.

Os irmãos Cardoso tinham ainda um jet ski e um afilhado de 13 anos disposto a pilotá-lo, muito embora não tivesse habilitação. Naquele fim de semana de Carnaval, era também a primeira vez que a pequena Grazielly Lames, de 3 anos apenas, via o mar. Ela brincava na praia, construindo castelos de areia, quando foi atingida de frente pelo jet ski. Morreu na hora. O garoto saiu em disparada e fugiu de Bertioga, acompanhado da mamãe. O único que apareceu foi o advogado Maurimar Chiasso, um dos principais criminalistas da região de Mogi das Cruzes, e amigão do peito do deputado Valdemar Costa Neto, que sabe bem o que é impunidade. Segundo o advogado, o acidente aconteceu por falha da máquina, que saiu desgovernada. Afinal, o Brasil, todo mundo sabe, é e sempre foi…

Eis aí um retrato do Brasil. Adultos irresponsáveis, adolescentes mimados, criminalistas talentosos, autoridades que não cumprem com o seu papel e, infelizmente, uma criança de 3 anos que partiu, logo depois de realizar o sonho de conhecer o mar. Quem é o culpado? Há um único culpado? Quantos serão punidos?

Ou será que, neste exato momento, não há outros jet skis colocando em risco a vida de crianças?