Será um grande teste, histórico até, a aplicação da Lei da Ficha Limpa já nas eleições deste ano. Como decidiu o Supremo há alguns dias, ela entra em vigor automaticamente e de saída pode pescar numa mesma rede nomes graúdos da vida política brasileira. A começar pelos “mensaleiros”, envolvidos naquele que é considerado um dos casos mais rumorosos da República – o da compra de votos de parlamentares. De uma só vez, 38 denunciados, caso condenados no processo que deve ser concluído ainda neste primeiro semestre, ficarão inelegíveis por oito anos e só poderão voltar a concorrer em 2020. Pela depuração ética que a lei permite, o sistema eleitoral trará avanços inegáveis e estará blindado contra artimanhas de candidatos que, por meio de seus currais de voto, se alçavam ao poder até como forma de continuar a praticar impunemente seus crimes. Esses senhores não estarão mais protegidos pelo escudo da imunidade política. Terão de pagar por seus delitos e limpar o nome antes de se submeter a novos referendos populares. Ganha o País e o povo, que, há muito tempo, reclama contra os desvios de conduta de seus representantes. É bom lembrar que a moralidade conquistada com a Ficha Limpa virou realidade graças a uma mobilização democrática da sociedade, que se organizou através de diversas entidades de classe e conseguiu recolher mais de 1,3 milhão de assinaturas para passar o projeto no Congresso e convertê-lo em lei. De certa forma, a iniciativa de massa demonstra por si só uma evolução da democracia brasileira. Da indignação ao protesto, da cobrança em bloco à vitória no Parlamento, os brasileiros deram um claro aviso de que não toleram mais a malversação da coisa pública e de que estão conscientes de sua força na reeditada fórmula do “unidos venceremos”. Partiram para a luta por seus direitos e deixaram muitas siglas partidárias “com as barbas de molho”. Quem sabe, agora, elas mesmas levem o processo eleitoral mais a sério.


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