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Nascido em Portugal e radicado em Madri, o artista Carlos Bunga tornou-se internacionalmente conhecido por seus trabalhos que fazem uma junção entre arquitetura e escultura por meio de materiais precários do cotidiano. Atualmente, Bunga participa do Projeto Octógono, realizado pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, que, desde 2010, convida artistas a ocupar o vão livre do museu com instalações feitas especificamente. Mas, para este trabalho, o artista abdicou da matéria precária e perecível e trabalhou com o que de mais nobre encontrou em sua passagem por São Paulo. O artista selecionou um conjunto de cerca de 30 esculturas em bronze do acervo da Pinacoteca, para ocupar o centro de uma estrutura feita de papelão, apenas deixando-se entrever por meio de fendas. Além da intervenção arquitetônica – que cria uma projeção ortogonal feita em grande escala, acompanhando a estrutura octogonal do espaço –, Bunga produz uma reflexão sobre os acervos dos museus, que dificilmente são exibidos em sua completude e apenas parcialmente visualizados.

Denominada “Mausoléu”, a instalação também esconde em seu centro uma brincadeira: quantas dessas esculturas selecionadas – entre elas bustos e nus artísticos – possuem estilo semelhante às das sepulturas e mausoléus de um cemitério? Mais do que aludir a similitude dessas obras do acervo às da estatuária funerária, Bunga realiza um exercício sobre a variação de estilos e as práticas artísticas através dos tempos e como estas são legitimadas por instituições e museus. A precariedade da arte diante do tempo tem como centro o peso da tradição das instituições culturais, que, em seu esforço em não nos deixar esquecer, acaba também por eleger aquilo que deve ser lembrado.