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FOGO
Manifestantes incendeiam o centro de atenas (topo), arremessam bombas na polícia (acima)
e levam o caos às ruas da cidade: crise financeira traz desespero à população grega

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Atenas está em ruínas e não são somente as da Grécia Antiga. Nas ruas, em meio à revolta popular contra as drásticas medidas de corte de gastos, a pergunta que se faz é: euro ou dracma? Começa a crescer um movimento de retorno à velha moeda nacional, apesar de todas as consequências desastrosas que a saída da zona do euro possa acarretar. A população grega não aguenta mais ouvir falar em pacotes de austeridades – e o último prevê a redução de 22% do salário mínimo, extinção de 15 mil empregos públicos e novos cortes de pensões. Para liberar sua segunda ajuda financeira, a União Europeia não abre mão de um compromisso por escrito do governo grego de que vai efetuar o corte de 325 milhões de euros no Orçamento de 2012. Pode parecer, mas a Europa não é a vilã. Por dez anos, a Grécia desdenhou das metas fiscais que todos os países da zona do euro deveriam cumprir. Quando a crise econômica estourou em 2008, os gregos ficaram alheios à necessidade de ajustes. Há dois anos, prometeram apertar o cinto e, novamente, não o fizeram. Daí a demora dos países da zona do euro em aprovar a liberação de um empréstimo de 130 bilhões de euros. “Se o resgate acordado no fim de outubro não for concretizado, estaremos fora do euro”, diz Pantelis Kapsis, porta-voz do governo grego.

E ele não está blefando. Sem socorro, não terá condições de honrar 14,5 bilhões de euros em dívidas que vencem em 20 de março. A economia do país está se desmanchando e o PIB em 2011 registrou queda de 7%. Em lugar do pânico, os demais países, principalmente a Alemanha, estão se preparando para o pior. A expressão Grexit, resultado da combinação Grécia e exit (saída), tem sido cada vez mais usada pelos analistas europeus. No início do mês, a vice-presidente da Comissão Europeia, a holandesa Neelie Kroes, afirmou que “a saída da Grécia da zona do euro não seria nenhum drama”. É difícil entender como um país do tamanho da Grécia tem 714.341 funcionários públicos, salário mínimo superior ao da Espanha e pensões mais altas do que na França. O caso de Portugal, que cumpriu praticamente todas as metas impostas pelo FMI, é citado como exemplo de sacrifício.

Expulsar a Grécia do bloco do euro é entregá-la à própria sorte. A medida seria desastrosa para o berço da democracia e mais da metade da população seria jogada na pobreza. Mas o caminho parece ser esse, a exemplo do que ocorreu com a Argentina em 2001. Os argentinos deram o calote na dívida, acabaram com a paridade com o dólar e mergulharam de cabeça na recessão. Na análise da pesquisadora da Fundação Getulio Vargas, Monica Baumgarten de Bolle, os credores estrangeiros vão dar continuidade à reestruturação da dívida grega para preparar uma saída mais suave do bloco. A estratégia é renegociar os débitos e recorrer ao Banco Central Europeu, que abrirá linha de crédito de mais de 500 bilhões de euros para os bancos. “Se completarem a negociação nas próximas semanas, esse será um cordão de isolamento ao contágio”, diz Monica. A preocupação de que Portugal poderia seguir o mesmo caminho começa a se desfazer. “Há uma boa vontade muito maior com Lisboa”, afirma o economista Armando Castellar, professor do Instituto de Economia da UFRJ.  

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