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"No 11 de setembro, meus filhos me ligaram de
Paris dizendo que havia começado uma guerra"

Ator preferido do genial cineasta sueco Ingmar Bergman, com quem rodou “O Sétimo Selo’’ e “Morangos Silvestres’’, entre outros, Max von Sydow é um dos astros favoritos ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo filme “Tão Forte e Tão Perto”, que estreia na sexta-feira 24. Seu papel é o de um homem mudo que ajuda um menino a aceitar a morte do pai no atentado de 11 de setembro. Esse é um dos assuntos tratados por Sydow na entrevista a seguir.

ISTOÉ – O que significa uma segunda indicação ao Oscar, aos 82 anos?
Max von Sydow – Uma maravilha.
É emocionante ser indicado pelos nossos colegas. Ou seja, pelos meus concorrentes. Se fui lembrado, devo saber o que estou fazendo.

ISTOÉ – O sr. concorre fazendo o papel de um homem mudo, justamente agora que o filme “O Artista’’, também mudo, é favorito. Trata-se de uma coincidência?
Von Sydow – Sim, e um pouco estranha. Mas não dá para comparar os dois trabalhos. Diferentemente de “O Artista”, no meu filme todos falam. Meu personagem se relaciona de outra maneira.

ISTOÉ – Não se sentiu tentado a carregar mais na linguagem corporal pelo fato de o personagem não falar?
Von Sydow – Teria sido um erro. Se ele não fosse mudo eu o teria interpretado da mesma maneira. O que me seduziu foi a chance de viver um tipo diferente de tudo o que já fiz. Como estou há anos nesse negócio, isso não é muito fácil de acontecer.

ISTOÉ – Como foi contracenar com Thomas Horn, um garoto que nunca atuou antes?
Von Sydow – Ele é inteligente e rápido. Nós nos conhecemos no teste de figurino e confesso que, na hora, duvidei de sua capacidade. Achei-o um pouco tímido, sem muita expressão. Um mês depois, quando começamos a filmar em Nova York, ele me surpreendeu. Demonstrou presença em cena e representou como um ator profissional.

ISTOÉ – Onde o sr. estava no 11 de setembro, tragédia em torno da qual gira a trama do filme?
Von Sydow – Estava na Suécia com minha mulher (Catherine Bretel) visitando familiares. Em meio a uma viagem de carro, nossos celulares começaram a tocar sem parar.

ISTOÉ – Quem ligou primeiro?
Von Sydow – Nossos filhos. Eles falavam de Paris, onde todos nós moramos hoje. Nos pediram para voltarmos para a França imediatamente, pois uma guerra havia começado. Achamos que era brincadeira, mas eles explicaram que os EUA estavam sendo atacados.

ISTOÉ – Costuma ver os seus filmes antigos, principalmente os clássicos que fez com Bergman?
Von Sydow – Muito raramente. Quando revejo algum deles, lembro como Bergman não tinha medo de ser chocante ou perturbador. Ele tratava de assuntos que ninguém ousava abordar.

ISTOÉ – Já pensou em se aposentar?
Von Sydow – Às vezes, sinto como se isso já tivesse acontecido. Aí não aguento e começo a atuar de novo. Tão cedo não me aposento.