Assista aos trechos de três filmes nos quais mulheres encaram papéis masculinos:

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MAQUIAGEM
Glenn Close usou próteses no nariz e nas orelhas para ficar mais masculina

Na próxima edição do Oscar, que acontece no domingo 26, Glenn Close concorrerá ao prêmio de melhor atriz. Se o humor que anima essa cerimônia se estendesse aos seus critérios cada vez mais flexíveis de premiação, não seria absurdo se ela disputasse também a estatueta de melhor ator. Explica-se: em seu novo filme, “Albert Nobbs”, Glenn interpreta um homem, o mordomo que dá nome a essa elogiada produção britânica, e reforça a tendência cada vez mais comum no cinema de se escalar mulheres para papéis masculinos. Desde a época do teatro elisabetano, no século XVII, é visto como natural atores aparecerem travestidos, usando perucas e colares em comédias e até mesmo em dramas. O movimento inverso, no entanto, não era tão comum. E por uma razão: mulheres são femininas e ponto. Basta, contudo, um bom corte de cabelo, trajes de alfaiataria e uma bela atuação para o milagre acontecer.

Em “Albert Nobbs”, que estreia no Brasil na sexta-feira 24, Glenn dá o toque de fragilidade necessário ao personagem do mordomo de um hotel, perseguido pela proprietária. Compõe com detalhismo sua personalidade polida e educada. Parece ser essa sensibilidade, muitas vezes associada ao temperamento da mulher, que os diretores procuram ao optar por atrizes nesses enredos. Foi assim com Linda Hunt em “O Ano em que Vivemos em Perigo”, cujo tipo franzino só aumentou a tenacidade do personagem de um fotógrafo de guerra, atuação que lhe valeu o Oscar de coadjuvante. Cate Blanchett foi escolhida pelo cineasta Todd Haynes para interpretar um dos seis Bob Dylan do filme “Não Estou Lá”, pelo mesmo motivo: ela vive o roqueiro em sua juventude, quando sua esguia silhueta podia ser “levada pelo vento”, para citar o seu sucesso da época. Atrizes também são lembradas na hora de se fechar um elenco quando o papel em questão envolve uma androginia difusa, caso do personagem de Peter Pan. Na versão mais recente dessa fábula, chamada “Em Busca da Terra do Nunca”,
o garoto voador foi vivido pela atriz escocesa Kelly MacDonald. E existe a estratégia meramente provocativa, como aquela usada pelo cineasta Joaquim Pedro de Andrade em “O Homem do Pau-Brasil”: Oswald de Andrade foi interpretado por Ítala Nandi, o que reforçava o traço irreverente do grande protagonista da Semana de Arte Moderna de 1922.

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"É preciso observar o tipo de corpo, os gestos, os
movimentos. Mais do que isso, entender como o homem pensa"

Na maioria dos casos, esse tipo de interpretação dispensa a maquiagem. Glenn, ao contrário, teve que passar por sessões diárias de visagismo. Para ressaltar as marcas de expressão, usava camadas de base no rosto. Colocava também próteses no nariz e nas orelhas para torná-los mais rudes. O resto é atuação. Antes de ir para o set, a atriz decidiu burilar o lado dramático de sua interpretação e cumpriu uma longa temporada no teatro em uma peça off-Broadway, vivendo justamente Nobbs. “Toda noite eu percebia a conexão especial da plateia com esse ser tão enigmático”, disse ela. Por não exigir tanta verossimilhança, é nos palcos que essa moda vem vingando mais. No Brasil, por exemplo, Débora Falabella terminou 2011 como o pesquisador Pedro Inácio na peça “O Amor e Outros Estranhos Rumores”. Já a veterana Bete Coelho está se tornando especialista ao fazer seu terceiro papel masculino – e de um homem nada sensível. No espetáculo “Cartas de Amor para Stálin”, ela vive o ditador russo – antes havia sido o escritor Franz Kafka na trilogia de Gerald Thomas e um ator amador em “O Terceiro Sinal”. Bete dá a receita: “É preciso observar o tipo de corpo, os gestos, os movimentos. Mais do que isso, entender como o homem pensa”, afirma. Outro truque é evitar a imitação. No caso de Stálin, por exemplo, tentou fugir do estereótipo de homem truculento. “Evitei aquela imagem do estadista de corpo grande e bigodão. Tentei enxergar o seu espírito, o que o levou a fazer as loucuras que fez.” Aos 65 anos, Glenn Close vai mais longe: “Representar um homem exige maturidade profissional”, diz ela, que tem em Albert Nobbs seu papel favorito nas suas mais de três décadas de carreira.

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