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Fazia tempo que o mundo das artes aguardava, ansiosamente, pela notícia da venda da quinta e última tela da série “Jogadores de Cartas”, do impressionista francês Paul Cézanne. Tratava-se da única das cinco obras ainda nas mãos de um colecionador particular e não exposta ao público em um museu. Marco da transição do impressionismo do século XIX para a arte moderna do século XX, todos esperavam que ela batesse recordes quando fosse vendida. Ainda assim, a surpresa foi geral quando, na semana passada, veio a público a informação de que a tela havia sido arrematada pela família real do Qatar, representada pela Autoridade de Museus do emirado, por estrondosos US$ 250 milhões. Trata-se de um valor estratosférico até para esse mercado, acostumado com cifras milionárias. “O recorde anterior, de uma tela de Jackson Pollock vendida em 2006, foi quase US$ 100 milhões mais baixo”, diz Thiago Gomide, avaliador da Bolsa de Arte de São Paulo.

Se o valor foi surpreendente, a identidade do comprador não chegou a ser uma surpresa. Há anos, o emirado árabe, que transborda de dinheiro vindo da exportação de petróleo, investe pesadamente para entrar no circuito mundial das artes. No epicentro, está a cidade de Doha, capital do país. Lá, nos últimos quatro anos, foram inaugurados dois novos museus – um deles concebido e executado pelo badalado arquiteto americano de origem chinesa I.M. Pei – e criadas escolas de arte, feiras de arte e festivais de cinema. À frente de todas as iniciativas está o próprio emir Hamad bin Khalifa Al Thani, rei do Qatar, e membros de sua família, como a sua filha, seus irmãos e primos. “Eles já têm as melhores lojas, os melhores carros e rios de dinheiro”, enumera Cândida Sodré, representante da casa de leilões de luxo Christie’s no Rio de Janeiro. “É natural que agora invistam seu milhões para ter um espaço no mundo das artes.”

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CULTURA
Museu de Arte Islâmica de Doha: projeto do badalado arquiteto I.M. Pei (acima)
e o patrocinador Hamad bin Khalifa Al Thani, emir do Qatar (abaixo)

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 E, se o objetivo é mesmo entrar para o circuito artístico internacional, tudo indica que as escolhas de investimento da família real, em especial a mais recente e cara, foram acertadas. Segundo especialistas, ao comprar o Cézanne, o Qatar mostrou que o interesse deles é de construir acervo e não apenas comprar arte para eventualmente negociá-la com algum ganho. “É até difícil imaginar que alguém compre uma tela por US$ 250 milhões na esperança de vender por mais”, explica Gomide, descartando a possibilidade de especulação. “Compras como essa são para marcar território. A obra fica no Qatar como um legado do emir”, diz ele. Legado que começará a dar frutos tão logo seja decidido onde a obra será exposta. É possível que o Museu Nacional do Qatar, que passa por reforma concebida por outra estrela da arquitetura internacional, o francês Jean Nouvel, seja o destino dele. Com a chegada da grande compra, o Qatar pode começar a se preparar para receber os turistas apreciadores de obras de arte ávidos por ver uma tela que ficou anos em acervo particular.

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