Passou dos limites e não pode ser enquadrada na vala do crime comum a ação anárquica, em forma de levante, dos PMs que deveriam zelar pela segurança da sociedade. Os atos de vandalismo, o uso de crianças como escudo de amotinados e as ameaças pelas ruas já configurariam infrações passíveis de punição exemplar. Mas esses PMs resolveram ir além. Tal e qual marginais que espreitam seus alvos para ataques covardes e deliberadamente premeditados, os PMs, segundo se depreende de gravações que vieram a público, armaram ciladas e espalharam terror – em alguns casos até mortes – que indignaram e deixaram perplexos espectadores por todo o País. Aqueles que se mancomunaram com esses atos deploráveis afrontaram o Estado de Direito e se equipararam a bandidos de alta periculosidade quando, de armas em punho, encapuzados, quiseram fazer valer sua vontade diante de uma população refém e fragilizada. Na conta fria dos números, a ausência de policiamento e o movimento de baderna que montaram contabilizavam de saldo, até o final da semana, quase 200 vítimas fatais. Uma quantidade de baixas só comparável a de lugares do mundo que se encontram sob conflito. A Bahia, coração do motim, virou praça de guerra. O oportunismo da operação “protesto” às vésperas do Carnaval e a tentativa de encobri-la com o manto vestal de uma mera reivindicação trabalhista por melhores salários somente acentuam a gravidade dos episódios registrados nos últimos dias. Não há, nesses casos extremos, qualquer brecha para uma anistia aos responsáveis. Do contrário, abre-se caminho para a legitimação da anarquia e o avanço da bandidagem, que nunca respeitou regras ou leis. A bem da verdade, a esmagadora maioria dos PMs honra a farda que veste e está a merecer, há muito tempo, uma revisão de suas condições de trabalho. São justos muitos dos pedidos dessa turma. Mas há métodos e alternativas legais, via negociação, para conquistá-los. Mal remunerados e pouco aparelhados para a atividade de risco que desempenham, os PMs do Brasil podem ser vistos como heróis. Uma imagem que levaram anos para lapidar e que não pode ser arranhada pela sandice de alguns poucos.