Indicadores econômicos favoráveis no Brasil, nos EUA, na China e até na Europa alimentam expectativas de que a crise europeia e seus impactos globais ficaram para trás. Bolsas e matérias-primas em alta e dólar em queda mostram que a esperança dominou o medo.

Podemos relaxar e gozar as alegrias da recuperação? Inegavelmente, duas medidas importantes foram tomadas para postergar o pior na Europa. O Banco Central Europeu ofereceu € 450 bilhões em empréstimos de três anos ao custo de 1% ao ano aos bancos da região. Com esse dinheiro, e recebendo taxas de cerca de 7%, eles voltaram a comprar títulos da Espanha e Itália, que antes não conseguiam se financiar. O BCE imprimiu ainda € 200 bilhões, que, injetados no FMI, financiaram parte dos pacotes de resgate à Grécia, Portugal e Irlanda.

Em resumo, a Europa adotou o caminho brasileiro da década de 80. Para evitar um calote, optou por rodar a máquina de imprimir dinheiro. As consequências inflacionárias e cambiais a médio e longo prazo nós brasileiros conhecemos bem, mas a curto prazos, a Europa ganhou fôlego. Uma recessão branda na região é quase uma certeza em 2012, mas se ela não vier acompanhada de uma nova crise financeira global causada por calotes, a recuperação econômica nos EUA e na China pode sustentar a economia global.

No entanto, os riscos ainda são muitos: 

1. Eventual calote grego que atinja o FMI e o BCE limitará a capacidade de ambos de conseguir novos recursos para pacotes para Espanha, Itália e bancos europeus.

2. Tal calote grego criaria precedentes que podem também levar Portugal ao calote, gerando preocupações se Espanha e Itália seguirem o mesmo caminho.

3. A possível saída da Grécia, e eventualmente de outros países europeus da zona do euro, pode gerar crise financeira, jurídica e de confiança significativa.

4. A recuperação nos países ricos continua totalmente dependente do estímulo monetário de seus respectivos bancos centrais. Com o balanço do FED e do BCE atingindo 30% do PIB, preocupações com inflação e exaustão dos estímulos monetários são inevitáveis.

5. A fragmentação política europeia e situações econômicas díspares continuam gerando dificuldades de coordenação política e aprovação de medidas corretivas na União Europeia; eleições e polarização política nos EUA, idem.

6. Se a recuperação econômica na Europa e nos EUA não acontecer logo, o risco de revoltas sociais violentas crescerá bastante.

7. Idem no Oriente Médio, onde já começou a frustração com a democratização pós-Primavera Árabe. Uma eventual quebra no fornecimento e alta significativa do preço do petróleo abortariam recuperações ainda incipientes nos EUA, na Europa e no Japão, grandes importadores de combustível.

8. Um eventual ataque militar ao Irã teria um impacto brutal sobre os preços do petróleo, gerando uma recessão global.

9. A atividade e os preços imobiliários estão em queda na China. Muitos acreditam que haja uma bolha imobiliária prestes a estourar.

Conclusão, é possível que o forte crescimento do consumo nos países emergentes, as inovações tecnológicas nos EUA e a integração política e fiscal na Europa se materializem e garantam um crescimento global robusto em 2012. No entanto, como palmeirense, aprendi que, quando tudo tem que dar certo para algo acontecer, é bom botar as barbas de molho.