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NOS TETOS DE PARIS
Asa Butterfield interpreta uma criança órfã criada por um relojoeiro

Famoso por filmes adultos que tratam da violência urbana, o diretor americano Martin Scorsese deixou as armas de lado e fez algo impensável para os amantes de seu estilo contundente: arriscou-se a contar uma história infantil. Em “A Invenção de Hugo Cabret”, que estreia na sexta-feira 17, o autor de produções como “Os Bons Companheiros” e “Taxi Driver” abriu mão dos tiros e dos assassinatos cruéis para expor a singela história de Hugo Cabret, um garoto órfão, interpretado por Asa Butterfield, que perambula por Paris nos anos 1930. Scorsese usou uma técnica que também nunca havia experimentado, o 3D. A dupla novidade foi bem recebida por Hollywood, que indicou o filme a 11 categorias do Oscar – e isso o torna o candidato ao maior número de estatuetas. Ao centrar a história em uma criança, o diretor aproveitou o contexto e abordou também a infância do cinema: na outra ponta do enredo fantasioso está o personagem do cineasta francês Georges Méliès, pioneiro no uso de efeitos especiais nas telas, interpretado pelo ator inglês Ben Kingsley.

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Criado por um tio relojoeiro, Hugo mora em uma estação de trem no centro de Paris e passa o tempo ajudando o pai adotivo a cuidar da manutenção do imenso relógio do local. Adquire, assim, familiaridade com o funcionamento de engrenagens, o que o habilita a uma empreitada mais ambiciosa: consertar um robô herdado do pai. É nesse ponto que ele fica sabendo que o autômato fora construído por Méliès. O precursor das ficções científicas tem sua história desvendada e contada pelo pequeno Hugo, 12 anos, que descobre fragmentos de filmes clássicos do cineasta. Um deles é o conhecidíssimo “Viagem à Lua”, que mostra o satélite da Terra ser atingido no “olho” por uma espaçonave, cena reproduzida com fidelidade por Scorsese.

Méliès é flagrado na velhice como proprietário de uma loja de brinquedos situada no terminal de trens. Ele se mostra um desiludido e responsabiliza o impacto causado durante a Primeira Guerra Mundial pela apatia das pessoas diante da fantasia do cinema. O velho cineasta não é o único pioneiro das telas a ganhar homenagem em “Hugo Cabret”. Os irmãos Lumière e o ator Charlie Chaplin também são reverenciados.

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INFÂNCIA DO CINEMA
O filme homenageia Charlie Chaplin na cena que se passa no interior
de um relógio (acima), Abaixo, o pioneiro Georges Méliès (Ben Kingsley)

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Os Lumière são lembrados na cena da primeira exibição pública de imagens em movimento, em 1896, que mostra uma locomotiva deslocando-se em direção à câmera. Na época, a exibição desse curta-metragem que entrou para a história com o título de “Chegada do Trem à Estação” causou espanto nos espectadores: eles saltaram das cadeiras pensando que seriam atropelados. Já as imagens de Hugo em meio das engrenagens de relógios remetem ao Chaplin de “Tempos Modernos”. A reconstituição desse ambiente fervilhante é um espetáculo, transportado para a sensibilidade atual pelo uso da projeção em três dimensões. “Sou fã dos filmes em 3D desde os 12 anos. Gosto da sensação de se estar no mesmo ambiente do personagem, uma experiência completamente diferente do teatro ou do cinema normal”, diz Scorsese, que fez 69 anos em novembro passado.

Além do uso do 3D, o orçamento de US$ 170 milhões permitiu que se construísse uma réplica do estúdio de Méliès, feito de vidro para que a luz natural fosse aproveitada nas filmagens. Scorsese não apenas refilmou cenas famosas dos filmes mudos. Também as coloriu manualmente, como Méliès havia feito um século atrás. Satisfeito com a experiência, ele considera viver um dos grandes momentos de sua carreira. Essa mudança de rota não é oportunista por acontecer em um momento de infantilização da cultura. Pai de Francesca, uma menina de 12 anos, Scorsese teve em casa a inspiração necessária para se aventurar em um universo diametralmente oposto ao seu, até hoje habitado por gângsteres e mafiosos: “O grande desafio é saber quais os elementos que prendem a atenção das crianças”, diz ele. Com o talento de Scorsese, a fantasia de Méliès e o futurismo das três dimensões, o filme não tinha como dar errado.

O orçamento do filme foi de US$ 170 milhões e permitiu a reconstrução do estúdio
de vidro, usado pelo cineasta Georges Méliès, pioneiro dos efeitos especiais

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