Como a maioria dos jovens, a nutricionista paulista Gabriela
Dicini, 23 anos, gosta de sair
para dançar ou ver um show.
Com os amigos, já fez fila na
porta de casas noturnas e
submeteu-se a revista antes de
entrar para se divertir. Em seu caso, porém, colecionou momentos de constrangimento pelo fato de ser diabética. Por depender da reposição de insulina, o hormônio que metaboliza o açúcar dos alimentos, não produzido por seu organismo, a moça tinha o hábito de carregar na bolsa um kit com seringa e agulhas para aplicação da substância. Para muita gente, aquele material não podia ser boa coisa. “Até a pessoa entender, me olhava como se eu fosse viciada em droga. Por isso, eu levava sempre uma carta do médico e a carteira da Associação de Diabete Juvenil”, conta. Para seu alívio, o embaraço virou passado. Incluída na pesquisa de uma nova insulina, Gabriela usa um aparelho que lhe permite aspirar o produto pela boca. Seu efeito é similar ao da versão injetável, com a vantagem de dar conforto ao paciente, por livrá-lo das picadas, e evitar o incômodo da curiosidade alheia na hora de receber a dose.

Essa insulina é chamada de inalável. Várias companhias farmacêuticas trabalham no desenvolvimento de produtos nessa linha. Por enquanto, somente um está liberado nos Estados Unidos e na Europa. Produzido pela Pfizer, o Exubera está em fase de aprovação no Brasil. Estima-se que chegará ao mercado no segundo semestre. Para os diabéticos obrigados a repor insulina diversas vezes ao dia, é uma notícia animadora, um tipo de aplicação pesquisado desde 1925. Atingir esse objetivo só foi possível quando os laboratórios descobriram meios de fazer com que as partículas chegassem rapidamente, por essa via, ao destino desejado: a corrente sangüínea. “O problema estava em fazer com que a insulina não parasse no meio do trajeto ou voltasse com a respiração. As partículas pesadas demais se depositavam em outros lugares e as leves retornavam”, conta o pesquisador Freddy Eliaschewitz, chefe de endocrinologia do Hospital Heliópolis (SP).

Um ponto importante nesse tratamento é o modo de aplicação. O Exubera é uma insulina em pó, colocada num inalador cujo funcionamento lembra as bombinhas de asma. Já o laboratório Novo Nordisk inventou um aparelho no qual é colocada uma cartela com a insulina líqüida. De aspecto semelhante a um bafômetro, o Aerx emprega uma tecnologia que transforma o produto numa solução aerossol. Dessa forma, atinge o pulmão e, de lá, se espalha para o corpo. O produto estará disponível para os brasileiros apenas em 2008. Agora, o fabricante inicia a última fase do estudo da nova droga. No país, quatro centros de referência participam da pesquisa.

Há dez milhões de diabéticos no Brasil. A maioria tem o tipo 2 da doença, a adquirida devido ao estilo de vida. São pessoas que, no começo, tomam comprimidos para manter a taxa de açúcar dentro dos padrões. A falta de cuidados adequados e a progressão da diabete, no entanto, levam esses indivíduos à necessidade diária de reposição da insulina. Os que não se dão bem com injeções teriam, com a insulina inalável, uma opção para continuar o tratamento, diminuindo as chances de complicações no futuro. Os portadores do tipo 1 da enfermidade, a congênita, também poderiam se beneficiar. Eles usam insulina de longa duração pela manhã e à noite. Antes das refeições, recorrem a produtos de ação rápida para que o hormônio esteja no corpo durante a ingestão do alimento. É nesse momento que a novidade seria útil. “A insulina inalável tem efeito rápido”, explica Marcos Tambascia, presidente da Sociedade Brasileira de Diabete.

Mas para o Instituto Nacional de Saúde da Inglaterra a alternativa não é vantajosa. Recentemente, a instituição declarou que o Exubera traria um custo adicional de 500 libras anuais (cerca de R$ 2 mil) por paciente. E concluiu que o produto se equivale às injeções na eficácia. Ou seja, para as autoridades inglesas não há motivo para trocar a medicação. Até o momento não se sabe quanto ela custará no Brasil. O que está claro é que a insulina em pó é contra-indicada para quem tem insuficiência cardíaca, enfisema pulmonar, bronquite e asma. Fumantes têm de largar o cigarro seis meses antes.

Há mais novidades a caminho. Espera-se que este ano sejam aprovados no Brasil dois outros produtos de nova geração. Eles atuam sobre o mecanismo da incretina, hormônio do intestino que estimula a fabricação de insulina. O Byetta, do laboratório Eli Lilly, deve receber aval positivo do Ministério da Saúde no segundo semestre. E o Januvia, da Merck Sharp & Dohme, já está com pedido de registro nos EUA e no Brasil. Esses remédios agem sobre estruturas diferentes, mas o objetivo é o mesmo: prolongar ao máximo a capacidade de o paciente viver sem a necessidade de repor a vital insulina. E, com isso, gerar mais qualidade de vida.