Diz o ditado que dinheiro atrai dinheiro – no caso da Índia, atrai dinheiro e muito mais. Explica-se assim que os olhos do mundo estejam voltados para esse país, o segundo que mais cresce no planeta, perdendo apenas para a China. A Índia ostenta, há 25 anos, a invejável média de 6% de crescimento ao ano – em 2005 chegou a 8%. E se já é paparicada há muito tempo como potência econômica emergente, ela começa agora a ser tratada também como gigante em ascensão no arenoso terreno da geopolítica. Os EUA acabam de dar aos indianos um novo status no xadrez mundial: ofereceram-lhes a chave para ingressar no seleto clube atômico, cujos sócios são o Reino Unido, a França, a Rússia e a China – além dos próprios EUA, é claro. Esses países são os únicos reconhecidos oficialmente como detentores “legítimos” de armas nucleares. Se a Índia entrar nesse privilegiado grupo (o acordo ainda precisa passar pelo crivo do Congresso americano), ela será considerada a sexta potência nuclear, podendo ter acesso à tecnologia civil nuclear dos EUA.

Seria uma oportunidade de ouro para esse país com mais de um bilhão de habitantes e o sexto maior consumidor de energia do mundo. O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, é brilhante economista com doutorado em Oxford e um dos responsáveis pela abertura econômica do país na década de 90, quando foi ministro das Finanças. Ele já avisou: o crescimento de seu país deve continuar seguro e firme, como “os passos dos elefantes”. No final do ano passado, Singh previu que a Índia crescerá numa média anual de 7,5% a 8%, isso até 2008. Aí será cumprida, segundo ele, a meta mais ambiciosa de atingir os 10%. No início de março, George W. Bush pisou Nova Délhi, e essa foi a terceira visita de um presidente americano à Índia num período de 28 anos. Bush alinhavou com o primeiro-ministro Singh um acordo histórico que poderá acabar com o isolamento nuclear indiano. A mão estendida de Bush dá a medida de quanto os EUA apostam alto na sua parceria estratégica com a emergente potência indiana.

Pelo acordo feito com os americanos, a Índia permite que 14 de seus 22 reatores nucleares sejam inspecionados. E, antes de Bush, o presidente francês Jacques Chirac assinara um pacto semelhante. Tanto Bush quanto Chirac rasgam elogios à Índia, que deixou de ser vista como um pária nuclear para ser classificada como “potência responsável”. O acordo é polêmico, já que o país não é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear. A Índia desenvolve há décadas o seu próprio programa nuclear, inclusive com fins militares, e críticos do acordo dizem que Bush abriu um precedente que dificultará daqui para a frente as tentativas de conter as ambições armamentistas de países como o Paquistão, a Coréia do Norte e o Irã.

Questões geopolíticas à parte, com a sua economia crescendo cada vez mais, a Índia tem uma sede insaciável de fontes energéticas. O país é hoje a estrela emergente que mais brilha dentro do chamado BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China. A sigla ficou famosa com a divulgação de um estudo feito pelo banco americano Goldman Sachs sobre as perspectivas de crescimento econômico desses países emergentes. A Índia deverá ser a terceira maior economia do mundo até 2040 e investidores de toda parte estão de olhos mais que abertos para o seu imenso mercado consumidor – a classe média indiana totaliza 300 milhões de habitantes (a população brasileira é de aproximadamente 180 milhões). Trata-se de um segmento social que se moderniza a cada ano, sedento de produtos e que supera toda a população brasileira em 120 milhões de pessoas – um mercado, enfim, que consome anualmente US$ 200 bilhões de bens duráveis.

O poderio da Índia vai muito além dos cifrões: está também nos seus famosos cérebros. Há anos o país vem investindo em educação superior, tem alguns
dos melhores institutos de tecnologia do mundo e forma anualmente três
milhões de graduados, 700 mil pós-graduados e 1,5 mil Ph.Ds. Desde a
década de 90, o país vem se tornando o celeiro das empresas de tecnologia da informação e de serviços como Call Centers. Também tornou-se pólo de desenvolvimento das indústrias de biotecnologia e farmacêuticas. O crescimento da classe média impulsionou a expansão de mercados como o de telefonia, automóveis e de comida processada. Não foi à toa que Bush aproveitou ao máximo sua visita. Além do pacto nuclear, ele tratou de acordos econômicos com o objetivo de dobrar o montante das trocas comerciais entre os dois países até 2010. O dobrar significa atingir os US$ 30 bilhões.