Zeus, Hera, Poseidon, Hades, Atena, Apolo, Ártemis, Afrodite, Ares, Hefesto, Hermes e Dionísio. Até a última sexta-feira, existiam apenas 12 deuses no Monte Olimpo. Havia quem cuidasse dos mares, dos céus, das guerras, do amor, do fogo e até mesmo do vinho.

Depois da última reunião do Comitê Olímpico Internacional, em Copenhague, na Dinamarca, vão ter que abrir mais uma vaga. E o dono é ele mesmo: o "sapo barbudo", o "cara". Luiz Inácio Lula da Silva, que se elegeu presidente do Brasil com o 13 do PT, um número de azar para alguns, será definitivamente o 13o morador da mansão de cristais, situada no topo de uma montanha de 2.919 metros, que serve de abrigo para os deuses.

Sua primeira tarefa na nova função será escolher um epíteto. Não poderá ser o deus da metalurgia, porque esse papel já é de Hefesto. Deus do teatro também não – o titular é Dionísio. A divindade da lua, ou dos homens virados para ela, é Ártemis. Portanto, ele terá que optar por algo novo. Talvez, o deus dos desvalidos, dos desacreditados, dos pigmeus. Dos emergentes, enfim. E se a escolha da sede dos Jogos Olímpicos é também um evento geopolítico, a disputa de Copenhague foi a mais simbólica de todas. O embate real travado na Dinamarca se dava entre a velha e a nova ordem mundial.

Na disputa, o primeiro a dançar foi Barack Obama, presidente da nação que gerou a crise econômica global – Chicago estava fora. Depois, foi a vez de Yukio Hatoyama, primeiro-ministro do Japão, cujo modelo exportador vem sendo colocado em xeque – bye, bye, Tóquio. Por último, eliminou-se Madri, capital do país que tem o maior desemprego da Europa e onde a bolha imobiliária causou mais estragos.

Sobrou, enfim, o candidato da "marolinha". Ainda haverá muita gente dizendo que o Brasil não terá capacidade para organizar uma Copa do Mundo em 2014 e uma Olimpíada apenas dois anos depois. Outros dirão que as obras serão superfaturadas. Mas os megaeventos esportivos são hoje os grandes indutores do desenvolvimento econômico – o que se estima para o Rio, além do pacote de US$ 14,4 bilhões, são investimentos que podem superar a cifra de R$ 50 bilhões.

Até recentemente, os brasileiros padeciam do complexo nelsonrodriguiano de vira-latas. Mas o mundo mudou. Os antigos donos do canil foram desalojados e os cães abandonados começaram a latir. Lula venceu. Pode até começar a programar um baile funk no morro, o Monte Olimpo. Levando as cachorras, é claro.