Todos os dias os brasileiros sentem no bolso o peso de custear, à base de muito pagamento de imposto, um sócio que pouco lhe entrega de volta. O Estado brasileiro, no decorrer dos anos e de vários governos, tem sido pródigo em recolher mais e mais dinheiro do contribuinte. Ele vem batendo recorde sobre recorde nesse quesito e, na semana passada, informou que atingiu em 2011 o astronômico nível de quase R$ 1 trilhão em receita tributária. Exatos R$ 969,9 bilhões. É um número sonoro, assombroso, que representa um crescimento de mais de 10% sobre o valor arrecadado em 2010. Equivale também a mais do que o triplo do desempenho esperado na geração de riqueza nacional – tomando-se por base que o PIB vá girar na casa dos 2,9% no período. O apetite leonino e desmedido é uma mazela que se alastra em todas as instâncias: municipal, estadual e federal, sem importar a coloração partidária do mandatário. Pelo lado da Receita, a explicação para o resultado é a melhora dos sistemas de arrecadação e fiscalização, que diminuiu as brechas de atuação dos sonegadores. A formalização de mais empresas e de mais trabalhadores, em decorrência do aquecimento da economia, também contribuiu. Mas não há como evitar a impressão de que o regime de tributos em cascata em vigor no País tem sido o maior responsável por esse anacronismo. Hoje uma simples água mineral carrega aqui quase 44% de impostos na composição de seu preço. Diversos setores da produção e dos serviços precisam embutir encargos que correspondem a mais da metade do que cobram do seu consumidor final. E a consequência direta dessa sanha arrecadatória é, se não a informalidade, a busca por alternativas em outras praças mais baratas. Talvez por isso mesmo os brasileiros gastaram no ano passado mais de US$ 21 bilhões no Exterior. De sapatos a roupas, de eletroeletrônicos a imóveis, eles encontraram de tudo por muito menos e saíram às compras. Uma reportagem de ISTOÉ nesta edição mostra que, em diversos casos, pelo preço que se paga por alguns produtos, é possível quitar a passagem, e o hotel, além da alimentação, e trazer na bagagem essas mesmas mercadorias lá de fora. Seria mais lógico – e rentável até para a Receita – inverter a mão do jogo, baixar tributos e estimular o consumo interno, mantendo o dinheiro aqui em um ciclo virtuoso. O sócio esperto não deveria hesitar diante dessa opção.