Nem bem passou do primeiro ano de mandato, a presidenta Dilma já conseguiu incorporar a alma política em seu dia a dia. Iniciou 2012 tomando medidas para incentivar a economia, que considera sua maior arma de governo. Resolveu a reforma ministerial compondo as vagas com nomes de confiança, construindo um gabinete à sua imagem e semelhança, mais técnico, distante das orientações partidárias e do apadrinhamento habitual de seu mentor, Lula. Estabeleceu um novo padrão de diplomacia internacional, demonstrando menos tolerância aos abusos comerciais da vizinha Argentina e adotando uma postura mais firme contra as violações de direitos humanos do Irã. Nesse aspecto das relações externas a guinada foi, de fato, significativa. Cada vez mais evidente fica que aquele modelo paternalista e condescendente do Brasil diante de práticas equivocadas dos países parceiros está abolido. A presidenta, ao seu estilo, vai ganhando um protagonismo mundial e colocará de vez em teste a nova fase de condução das negociações com aliados na visita que fará a Cuba daqui a algumas semanas. O que se espera dela é que tome uma posição menos passiva diante do regime ditatorial em vigor há décadas na Ilha de Fidel.

Na composição do figurino político da presidenta, os movimentos mais eloquentes se deram, no entanto, na semana passada. Ao resolver não ir ao Fórum Econômico de Davos, na Suíça, Dilma sinalizou que está mais preocupada com os assuntos domésticos do que com a evolução do quadro de crise europeia. Preferiu o Fórum Social de Porto Alegre, atendendo aos interesses petistas. Quis mostrar que também é capaz de gestos de aproximação para abrandar eventuais críticas de correligionários. No mesmo tom, desdobrou-se em gentilezas com o ex-presidente Lula quando ele a visitou no Planalto por ocasião da despedida do ministro Fernando Haddad da pasta da Educação. O saldo dessa agenda de ações para construir um perfil de gestora eficiente e politizada no trato da coisa pública está agora expresso em números. Pesquisa da “Folha” apontou que a aprovação de Dilma supera a de Lula e de FHC em início de governo. Ela cravou 59% de avaliação ótima e boa ao completar um ano no Planalto contra 41% de FHC, 42% de Lula, 23% de Collor e 12% de Itamar. Aos olhos do eleitor, Dilma é, até aqui, uma política melhor que seus predecessores.