Quatro meses atrás, quando foi capa da revista “Newsweek”, a presidenta Dilma Rousseff ganhou um apelido preciso: “Dynamite Dilma”. Aquela reportagem, no entanto, não deve ter sido lida pelo deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que dorme e acorda sonhando com a presidência da Câmara dos Deputados. Dias atrás, quando seu apadrinhado no Departamento Nacional de Obras contra as Secas balançava no cargo, suspeito de drenar quase todos os recursos do órgão para o Rio Grande do Norte, Alves bravateou: “Ela não vai querer comprar uma briga com o maior partido do País.” Comprou. Horas depois, Elias Fernandes, que mandava no Dnocs, estava demitido e o líder do PMDB se viu humilhado e reduzido ao seu verdadeiro tamanho.

Antes dele, José Sérgio Gabrielli, também brincou com fogo ao alardear que tinha o costume de gritar com a então ministra Dilma. No começo da semana, foi demitido da Petrobras e saiu falando fino. Perdeu o comando da maior empresa do País e terá que se contentar com uma secretaria do governo da Bahia. Dilma impôs sua escolha para a estatal, nomeando a diretora Maria das Graças Foster, sem se dar ao trabalho de consultar o partido que a levou ao poder. E, enquanto petistas esperneavam, investidores compravam ações da Petrobras.

Nos próximos dias, especula-se que serão demitidos outros diretores da empresa, indicados por PT e PMDB, os dois partidos que formam o eixo central da coalizão que governa o Brasil. É assim, dinamitando aliados, que Dilma se impõe e vem conduzindo uma reforma do Estado que ultrapassa os partidos. Com o Congresso na mão e sem uma agenda de reformas estruturais, ela ancora a governabilidade na boa imagem que tem junto à opinião pública e ainda tripudia dos aliados ao flertar com os adversários – no dia em que São Paulo festejava seus 458 anos, Dilma recebia medalhas de Gilberto Kassab e posava sorridente com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Dilma já percebeu que seu estilo agrada. E se 2011 foi o último ano da era Lula, que ainda não havia desencarnado, 2012 já nasce forjado pela presidenta com a sua marca e a sua cara.

É também um governo com um corte de gênero cada vez mais explícito. No Palácio do Planalto, as três principais assessoras de Dilma são mulheres: Gleisi Hoffmann, Helena Chagas e Ideli Salvatti. Na maior empresa brasileira, carro-chefe do PAC, há uma mulher no comando, Graça Foster, que também tem fama de durona.

Tempos atrás, quando se viu instada a explicar seu estilo, Dilma se definiu como uma mulher dura cercada de homens meigos. A cada dia, para quem ainda duvida, ela prova que sabe e gosta de mandar. E que começa também a criar seus avatares na máquina pública. As mulheres estão no poder.

E os homens, meigos ou não, fariam bem se baixassem a crina.