27/01/2012 - 21:00
OTIMISTA
Mariana acha que o País está melhor:
“A prioridade é a educação”
O rosto de camafeu, com pele muito clara e aparentemente sem nenhuma marca de idade, parece ter nascido para ser emoldurado pelos cabelos loiros platinados de Mariana Ximenes. O resultado é uma imagem de diva de cinema, mais próxima da contemporânea Scarlett Johansson do que do mito Marilyn Monroe, embora possam ser identificados em graus diversos nessa mistura a modernidade da primeira e o poder de sedução da segunda. Nascida em São Paulo e morando atualmente no Rio de Janeiro, a atriz de 30 anos é apontada como musa dos políticos, tamanho o sucesso que seu charme e carisma fazem entre senadores e deputados. Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, Mariana diz que desconhece o título e dá uma gargalhada: “Acho curioso. Mas, para considerar a ideia simpática ou não, eu teria de saber quem me deu o título.” Engana-se quem pensa que a política seja um assunto que lhe cansa a beleza. Está em sua mira levar para os palcos a história de Ulysses Guimarães (1916-1992), contada através de sua mulher, dona Mora (1922-1992).
"Penso em transpor aquele momento em que o Ulysses Guimarães era
um grande personagem na história do Brasil para uma produção teatral"
“Quero falar dessa importante figura política e da história do Brasil para gerações mais novas que desconhecem aquele fascinante momento do País”, diz a musa que, com certeza, teria o voto do “Sr. Diretas”, como Guimarães ficou conhecido por lutar a favor de eleições presidenciais. Típica balzaquiana – expressão derivada do romance “As Mulheres de 30”, do francês Honoré de Balzac (1799-1850), que associou essa idade ao amadurecimento pleno –, Mariana tornou-se uma “empreendedora”, como diz, ao produzir a peça “Os Altruístas”, da qual também é protagonista, em cartaz no Rio. Dedicando-se também às filmagens de “Os Penetras”, dirigido por Andrucha Waddington, e se preparando para o remake no segundo semestre da novela “Guerra dos Sexos”, da Rede Globo, ela não sabe quando poderá “ser” Mora, mas não tem dúvida de que será: “Quero produzir a peça e interpretá-la.” Terá, provavelmente, que fazer muito laboratório em Brasília. Para alegria da classe política, a musa passará um bom tempo no Distrito Federal.
"Eu fico cansada no palco porque a minha personagem é
muito ágil. A Fernanda Montenegro diz que nós somos atletas"
Dizem que você é musa eleita por políticos, em Brasília. O que acha disso?
Não sei nada sobre isso. Não sou musa de políticos. Acho curioso. Teria de saber quem me deu o título para ver se acho simpático ou não.
Algum personagem político a interessa, em particular?
Sim, muito: o político Ulysses Guimarães. Quero fazer um projeto para contar a história dele por meio da mulher, a dona Mora. Penso em transpor aquele momento em que o Ulysses era um grande personagem na história do Brasil para uma produção teatral e mostrar às gerações novas quem era ele. A dona Mora é a grande mulher atrás de um grande homem. E eles viveram uma bonita história de amor.
Você interpretaria a dona Mora?
Sim. Se Deus quiser, vou poder fazer. Estou plantando minha sementinha porque quero interpretá-la. Ela é a ótica feminina para contar uma história política fascinante.
Depois de nove anos sem atuar em teatro, você volta com um espetáculo que critica a sociedade de forma geral.
Queria fazer alguma coisa com a qual me identificasse. Veio essa peça, “Os Altruístas”, de Nicky Silver e adaptada pelo Guilherme Weber, boa para chacoalhar, poder falar para a sociedade assim: olha, a gente não pode mais viver nessa hipocrisia, né? Um bom momento para isso.
Por que este momento é bom?
Porque a gente vive numa sociedade muito estressante, todo mundo hoje tem compulsão por celular, todos reclamam da falta de tempo. Estamos sempre atrasados, deficitários, devendo respostas para alguém. O estresse é geral. Hoje, as crianças têm celular, já começam cedo a ficar conectadas. Tenho uma afilhada de 4 anos que já mexe com iPad. Há vantagens, mas isso também gera muita ansiedade.
Sua peça chama “Os Altruístas” mas os personagens são egoístas. Somos assim?
Exatamente. Os jovens personagens refletem uma situação bem contemporânea: falam em altruísmo, mas não fazem. Apenas, um cobra do outro.
Acha que isso reflete a juventude atual?
Não quero generalizar. Afinal, sou jovem aos 30 anos, acredito que tem gente engajada, que pensa no futuro, em política, em cultura. Eu conheço a Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), que é uma deputada (federal) superativa, inteligente. O Jean Wyllys (PSOL-RJ) também é um deputado muito interessante. Acredito que existam, na minha geração, outras pessoas, em outras áreas, que também façam a diferença.
Você é otimista?
Eu sou. E acho que o brasileiro está se sentindo mais valorizado também. Sempre foi muito triste ver um país tão rico, com tantos recursos naturais, artistas e pensadores da mais alta qualidade, e uma política com tanta laranja podre, como acontece com o Brasil. A Dilma (Rousseff, presidente) até veio com a proposta da faxina para limpar isso, o que é contundente e necessário. Ela está conduzindo bem, vamos ver até quando. Mas tem que limpar é a mentalidade do brasileiro, que é quem elege. O cerne do problema está na educação, que é prioridade e urgente.
Educação, inclusive, para evitar o famoso “jeitinho” – que camufla tudo e não ajuda a promover mudanças, não é?
O jeitinho brasileiro, a coisa do atalho, que acaba não sendo uma solução, e sim um problema. Mas sou uma otimista. Não ingênua, apenas acho que tem jeito. Se cada um fizer seu papel individual, nos sinais de trânsito, na hora de poupar a sacola plástica do supermercado, nos gestos de gentileza, na ética – esses valores que estão tão perdidos, mas que podem transformar o mundo. A peça “Os Altruístas” é catártica por isso, toca nesses pontos.
Acompanhou a polêmica sobre o suposto abuso sexual no “Big Brother Brasil 12”?
Não tenho acompanhado. Mas soube por alto dessa polêmica. Eu não assisto. Realities não me interessam. Mas entendo a curiosidade. Eu gosto é de cinema, artes plásticas, piquenique no parque, de cozinhar, ir à casa dos amigos e trabalhar.
Não deixa de ser curioso que sua personagem Sidney, na peça, seja uma atriz de novela que critica as estrelas de folhetins e você é uma delas.
Achei interessante brincar com essa metalinguagem. Mas sou uma pessoa que adora fazer novela, não tenho problema nenhum de fazer novela, senão não teria feito nove na minha vida.
Já está escalada para alguma novela?
Provavelmente, será “Guerra dos Sexos”, do Silvio de Abreu, prevista para estrear no fim do ano. Vou fazer par romântico de novo com Gianecchini (Reynaldo Gianecchini, ator), meu parceirinho querido, amado.
Ele está bem?
Está respondendo bem ao tratamento (contra um linfoma), mantém a cabeça boa, é forte, lindo, superlúcido, um exemplo para todo mundo. Estamos juntos direto, passei o Natal com ele, tenho o maior amor, uma profunda admiração pelo ator e pela pessoa. Ele, a Claudia (Raia, atriz) e eu somos muito unidos. Em “Passione” (novela da Rede Globo exibida no ano passado), ele foi parte fundamental da minha criação como a Clara.
Você vai interpretar no cinema a cantora Joelma, da Banda Calypso?
Olha, imprensa a gente tem que sempre questionar. Internet, então! Eu li sobre isso, se você der um Google vão aparecer milhares de notas, mas eu mesma nada sei sobre isso.
Sabe cantar para interpretar uma cantora?
Não, a princípio. Mas não nego fogo.
Agora você também é produtora, não é?
Fiquei amarradona em fazer produção da peça porque você realiza algo, vê o nada virar alguma coisa. Você escolhe o que quer fazer, com quem quer fazer. Quero produzir para cinema também. Produzir gera empregos. Quando vi a lista de pessoas envolvidas na peça, levei um susto: é muita gente, é muita gente! Não sabia que era um negócio desse tamanho! Descobri meu lado empreendedor e adorei. Cada conquista é uma celebração. É como a construção de uma casa, tijolo por tijolo.
Você falou sobre o “sim” da produção. E sobre o “não”?
É terrível receber tantos “nãos”. A fase de captação do recurso é imensa. O patrocinador, claro, quer saber sobre o que é a peça antes de decidir se quer colocar o dinheiro e associar sua imagem. Aí, quando fica sabendo que é uma peça politicamente incorreta, se assusta. Não é fácil, mas que bom que existem pessoas que acreditam na cultura ainda.
Talvez você tenha mais facilidade porque tem uma imagem de moça bem-comportada, meio namoradinha do Brasil. Isso é bom ou a incomoda?
Não tenho receio disso, fiz uma mega-assassina numa novela (“Passione”), fiz uma garota underground que se envolve com os assassinos dos pais no filme “O Invasor”, do Beto Brant. Tento misturar os personagens e graças a Deus tive boas oportunidades e o privilégio de ter papéis diversos, mas não tenho isso como estratégia.
Assim como você, que assumiu o comando de um projeto, as mulheres estão mais poderosas.
Acho que está bem diluído, e isso é bom. Mas eu adoro o cavalheirismo. A mulher pode ser forte, mas sem dispensar a gentileza masculina. Apesar de termos nos tornado muito independentes, ainda gostamos de gestos cavalheirescos.
Sua personagem gesticula muito no espetáculo, parece que faz aeróbica em cena, não é?
Eu fico cansada no palco porque a minha personagem é muito ágil. A Fernanda Montenegro diz que nós somos atletas. Tenho que chegar três horas antes de a peça começar para fazer aquecimento vocal, corporal, me concentrar em silêncio. Fora isso, eu sempre tiro uns dias de descanso. Sabe o que fiz no Réveillon? Fui para a Tanzânia. Antes da virada do ano, eu já estava dormindo. Nem eu acredito que fiz isso, mas foi ótimo, calmo, energizante. Isso é o que me recarrega.