Vai ter bolo-de-rolo no tradicional lanche das tardes das quintas-feiras na Academia Brasileira de Letras. Esse doce é quase uma senha do novo presidente da ABL e ministro do Tribunal de Contas da União, Marcos Vinicios Vilaça. Sempre que o protocolo permite em reuniões e eventos (e quando não permite ele dá um jeito), Vilaça distribui a seus amigos pedaços desse rocambole feito com pão-de-ló e goiabada – e olha que ele considera amigo até os que são apenas “simples conhecidos”. Como Vilaça tornou-se diabético há pouco tempo, cabe perguntar se já existe a sua versão diet desse doce. A sua resposta é objetiva e bem-humorada: “Bolo-de-rolo não permite caricatura.”

O bom humor é, na verdade, a segunda marca do novo presidente da ABL – e mantém-se inalterado mesmo diante das liturgias dos diversos cargos que ele ocupa. Nascido na cidade pernambucana de Nazaré da Mata, Vilaça começou a exercer atividades políticas em seu Estado na década de 60 e, desde então, acumula títulos. Autor de Coronel, coronéis, obra escrita há 40 anos e traduzida para vários países, ele tem planos de modernizar no Rio de Janeiro a centenária ABL através da internet. “Gostaria de criar até um blog”, diz ele. A sua intenção é franquear “o diálogo entre a academia e o internauta”. E pretende também disponibilizar na internet os títulos que são hoje de domínio público. Essa será uma difícil tarefa: segundo um dos responsáveis pela Biblioteca da ABL, a instituição não faz a menor idéia de quantas obras estão nessa situação.

“Sei que a minha gestão é transitória, mas quero que seja transitiva”, diz o bom frasista Vilaça, 66 anos. O sentido principal desse desejo é o de maximizar a comunicação de idéias e, para isso, está disposto a incluir o Rio de Janeiro no roteiro de seus domicílios. “Desconfie de uma pessoa que diz que não tem tempo. Tempo a gente sempre faz e o TCU tem base operacional no Rio de Janeiro. Não importa onde eu esteja, posso trabalhar normalmente em diversas das minhas atividades”, diz ele. O tempo tem sido esticado também para que possa escrever um novo livro, ainda sem título, mas com conteúdo bem definido: “É sobre o papel dos genros na vida política, empresarial e intelectual do Brasil.” Vilaça vai cruzar a história de genros com a de suas respectivas famílias, empresas ou carreiras políticas. “Quer ver um que multiplicou? O José Ermírio, pai do Antônio Ermírio de Moraes. E há casos de dois, três genros célebres na mesma família, como o Amaral Peixoto e o Moreira Franco”, diz ele. Extremamente ligado à família, Vilaça ainda sofre a morte há seis anos de um filho, o marchand Marcantonio Vilaça: “Eu lido muito mal com esse assunto, essa crueldade da vida.”


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