As emissoras de tevê foram tomadas por uma onda de nostalgia? Os autores de novela estão atolados num bloqueio criativo? A resposta a essas duas questões ainda não foi dada, mas o fato é que, em pleno processo de aquecimento da teledramaturgia, a fórmula do vale a pena ver de novo é a ordem da vez. A Rede Record, que revigorou o seu horário de novelas com A escrava Isaura, segue apostando nos remakes – e de novo num remake de mais um sucesso global: Gabriela. A Rede Globo, por sua vez, vasculhou o próprio baú e reedita Sinhá Moça (próxima novela das seis), com estréia marcada para o dia 13. Também o SBT não fica fora dessa onda e o diretor Herval Rossano tem pela frente a missão de concretizar o sonho de Silvio Santos de ver recontada em sua emissora a trajetória de Dona Beija, exibida pela extinta Rede Manchete em 1986.

Entre os veteranos autores de novela, é Benedito Ruy Barbosa quem mais tem atravessado esse túnel do tempo – tanto é assim que a Globo adquiriu da Manchete os direitos de Pantanal, que o seu autor quer ver modernizada. E apenas dois anos após ter requentado Cabocla, folhetim originalmente exibido em 1979, ele requenta Sinhá Moça, de 1986. Sai Lucélia Santos, entra Débora Falabella no lugar da heroína. “Passaram 20 anos, há uma nova geração que não conhece a trama”, diz o diretor Ricardo Waddington. “Pode ser que os telespectadores ainda se lembrem da Lucélia como protagonista, mas a Débora também tem o misto de candura e força exigido para o papel.” Segundo a coordenadora do Núcleo de Pesquisas de Telenovelas da USP, Maria Lourdes Motter, “o remake deve dialogar com o momento atual. A escrava Isaura e Sinhá Moça, por exemplo, tratam do período da escravidão, e a discriminação racial ainda é uma questão não resolvida no Brasil”. Ela cita também um caso de fracasso: Irmãos Coragem, de Janete Clair. O original de 1970 foi um dos grandes êxitos globais, o remake de 1995 foi um fiasco. “Na década de 90, o sonho de enriquecer no garimpo já não fazia sentido”, diz Maria Lourdes.