Economia & Negócios

União de gigantes
Megafusão do Itaú e do Unibanco resulta na criação do maior banco da América Latina

Octávio Costa
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Vizinhos no charmoso bairro da Vila Nova Conceição, em São Paulo, os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles passaram a se falar com mais freqüência nos últimos meses. Mas longe de casa. Tinham uma idéia na cabeça e deram vida ao audacioso projeto em reuniões ultra-sigilosas numa mansão no Morumbi, de Israel Vainboim, presidente do conselho do Unibanco Holding. Na quinta-feira 30 de outubro, bateram o martelo, chamaram advogados e anunciaram a decisão de fundir as operações do Itaú e do Unibanco, criando o maior banco do Brasil e da América Latina. A nova instituição, com ativos totais de R$ 575 bilhões, 4.388 agências e 107 mil funcionários, deixa para trás o Banco do Brasil e o Bradesco e tem músculos para disputar mercados na América Latina e na Europa. Nas contas do presidente do Unibanco, Pedro Moreira Salles, acaba de nascer um gigante: o 16º maior grupo financeiro do mundo. "Nós estamos fazendo história hoje no Brasil", comemorou o presidente do Itaú, Roberto Setubal, em entrevista no MAM de São Paulo, na segunda-feira 3 de novembro.

Valor do novo banco R$ 575 bilhões
Com 4.388 agências e 107 mil funcionários, o Itaú Unibanco tem potencial para disputar mercado no cenário financeiro internacional

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As informações iniciais sobre a fusão estouraram como uma bomba logo na abertura dos mercados na manhã de segunda. Com a quebra do sigilo – que foi preservado de maneira inédita no País – soube-se que o presidente Lula fora avisado em primeira mão por Setubal e Moreira Salles, numa audiência improvisada na Base Aérea de Congonhas, na tarde de domingo. O presidente Lula recebeu a fusão com entusiasmo: "Que bela notícia!" Dali, os dois banqueiros decolaram num jatinho rumo a Brasília, onde deram detalhes da transação ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Meirelles não só apoiou o negócio como prometeu apressar os trâmites oficiais. "A iniciativa contribui para o fortalecimento do sistema financeiro nacional e para a retomada dos níveis de crédito no País", disse ele. Na mesma toada, Mantega afirmou que a fusão "fortalece as instituições já fortes e tradicionais que vão ter um poderio maior".

i74234.jpgMesmo atordoado pela surpresa, o mercado financeiro recebeu o negócio em alto estilo. Na Bolsa de São Paulo, a resposta foi imediata com alta de 16% nas ações do Itaú e de 9% nas ações do Unibanco. Entre os empresários, a reação também foi altamente positiva. "Temos a união de dois dos melhores banqueiros da atualidade. O novo banco já pode ser considerado um player global", afirmou à ISTOÉ o empresário Luiz Cesar Fernandes, fundador do Banco Pactual. Destronado do primeiro lugar entre os bancos privados, o Bradesco não perdeu a majestade. Em elegante nota oficial, comentou que "os dois bancos, uma vez juntos, ampliam a disputa no já competitivo mercado financeiro brasileiro". Mas ressalvou que não vai se intimidar diante do poderoso adversário. "A concorrência e a superação de desafios são elementos presentes na história de sucesso do Bradesco, desde sua fundação em 1943, em meio aos rigores da Segunda Guerra Mundial", adverte a diretoria do Bradesco.

Os dois bancos que se unem também vêm de longe. O Unibanco nasceu em 1909 como Casa Moreira Salles em Poços de Caldas, em Minas Gerais. E o Itaú surgiu em 1943 como Banco Central de Crédito, com sede na rua São Bento, no centro histórico de São Paulo. Na última metade do século passado, ambas as instituições foram administradas por patriarcas de personalidade forte. No Unibanco, a batuta coube a Walther Moreira Salles, que foi embaixador do Brasil em Washington, e negociou a dívida externa do País no governo Jânio Quadros. No Itaú, o principal personagem foi Olavo Setubal. A exemplo de Moreira Salles, Setubal chegou ao primeiro escalão do Executivo. Foi ministro das Relações Exteriores do governo José Sarney e sob seu comando o Itaú foi pioneiro na criação de bancos de investimento. Antes de morrer em agosto, incentivou a realização do negócio e, para viabilizá- lo, ofereceu sua cadeira no conselho de administração.

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Mas o destino traçou caminhos diferentes para os descendentes de Walther Moreira Salles e Olavo Setubal. Três filhos de Walther não se interessaram pelo mercado financeiro. Fernando, o mais velho, dedica-se ao ramo editorial. João é documentarista e Waltinho é cineasta premiado. Pedro foi o único a seguir os passos do pai.

Do lado dos Setubal, a situação é bastante diferente. Alfredo trabalha com Roberto no Itaú, enquanto Paulo e Ricardo dirigem, respectivamente, a Duratex e a Itautec. Fora do mundo dos negócios estão apenas o médico pediatra José Luiz e a socióloga Maria Alice. Certo é que o perfil familiar dos dois bancos aproximou seus comandantes. Segundo Pedro Moreira Salles, o negócio em boa parte teve base nos valores de família: "Nossos pais foram homens públicos, ministros de Estado, banqueiros e empresários."

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Na nova instituição, que ainda depende de aprovação do Banco Central, Cade e da CVM, a Itaúsa, holding que reúne os membros das famílias Setubal e Villela donas do Itaú, ficará com 69,9% do novo conglomerado, cabendo aos Moreira Salles 30,1%. Roberto Setubal será o presidente do Itaú Unibanco e Pedro Moreira Salles assumirá a presidência do conselho de administração, que será composto por 14 membros. Seis serão indicados pelo Itaú e pela família Moreira Salles, os outros oito, conselheiros independentes. Na primeira semana de dezembro serão realizadas assembléias para aprovar o plano de incorporação. Na manhã da terça-feira 4, o presidente do BC, Henrique Meirelles, foi até Tarso Genro, ministro da Justiça, para pedir que a Secretaria de Direito Econômico recomende ao Cade a aprovação da fusão. Mesmo porque a concorrência não ficará parada. "O Bradesco, assim como o Banco do Brasil e o Santander, terá de suar a camisa para se aproximar do Itaú Unibanco", diz Roberto Troster, da Integral Trust. No mercado, corre de mão em mão uma lista de possíveis bancos que poderiam ser comprados pelo Bradesco. "Um deles é o Banco Votorantim, forte na concessão de crédito consignado e financiamento de veículos", destaca o analista da Austin Rating Luiz Miguel Santacreu.

i74240.jpgOs Moreira Salles e os Setubal comemoraram a fusão com um majestoso jantar na casa de Israel Vainboim, onde o namoro dos dois bancos começou. A festa foi regada a champanhe. Tudo indica que os correntistas dos dois bancos também terão motivos para festejar. Com os ganhos de escala da fusão, o Itaú Unibanco poderá rever a política tarifária e no processo de sinergia serão aproveitadas as qualidades de cada uma das instituições. O Unibanco, por exemplo, tem forte tradição no crédito pessoal e na administração de cartões de crédito. Já o Itaú é internacionalizado. Em Zurique, por exemplo, incorporou toda a estrutura que o suíço UBS havia montado para atender investidores brasileiros. Os clientes do Itaú Unibanco terão acesso facilitado, portanto, ao mercado financeiro internacional, por sinal, alvo preferencial do novo gigante. "No futuro, nós certamente vamos fazer aquisições no Exterior. Temos capacidade para isso", avisa Roberto Setubal. "Vamos figurar entre os dez maiores do mundo, quem sabe nos próximos quatro, cinco anos", completa Pedro Moreira Salles.

 

 



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