O visitante que pisar o Museu da Língua Portuguesa, inaugurado na segunda-feira 20 em São Paulo, estará pisando o primeiro espaço cultural do mundo destinado exclusivamente ao idioma de um país. Mais: entrará numa instalação gigantesca concebida num cenário futurista – luzes, efeitos especiais, computadores, telões, projeções digitais, tudo isso exibindo obras clássicas da literatura brasileira e jogos que mostram a riqueza de nossa língua. Essa parafernália faz desse museu uma espécie de parque de diversão tecnológico onde os brinquedos são letras e palavras – e o público pode brincar, ou melhor, interagir, o tempo todo. O passado reverbera nas austeras linhas inglesas da centenária Estação da Luz, um dos marcos arquitetônicos de São Paulo e sede do museu. O presente se traduz na tecnologia que faz dessa casa um museu do século XXI. O empreendimento consumiu R$ 37 milhões e levou sete anos para ser concretizado. Assina o projeto museográfico o americano Ralph Appelbaum – o mesmo que fez o Museu do Holocausto de Washington. Assinam o projeto arquitetônico Paulo Mendes da Rocha e seu filho Pedro – o pai foi quem restaurou a Pinacoteca do Estado de São Paulo.

O envolvimento e o deslumbre do público no Museu da Língua começa no elevador panorâmico que dá acesso ao terceiro andar da instalação – é por ele que se inicia a visita. Do interior do elevador vê-se a Árvore da língua, escultura em ferro de 16 metros de altura. A atmosfera high tech se prolonga ao Auditório de 166 lugares no qual é projetado filme de 20 minutos sobre a origem da nossa linguagem. A narração dessa história é de Fernanda Montenegro.

No final da projeção, uma surpresa: a tela dobra-se e dá passagem para a Praça da Língua, um planetário que trocou os astros por letras em movimento. Na antologia multimídia, vozes e textos se misturam. Poemas de Carlos Drummond de Andrade, Gonçalves Dias e Gregório de Matos são declamados, respectivamente, por Alice Ruiz, Chico Buarque e o  rapper Rappin’Hood. Agora, vamos a um choque visual no segundo andar da instalação: a extensão do prédio descortina a Grande Galeria, corredor com telão de 106 metros que é bombardeado, simultaneamente, por 36 projetores. Eles exibem 11 filmes sobre a linguagem do cotidiano. A viagem tecnológica prossegue com o segmento Palavras Cruzadas, oito “lanternas” (totens) triangulares, com monitores que são sensíveis ao toque das mãos. Elas fornecem informações sobre as línguas que formaram o português falado hoje no Brasil.

Há também um grande painel chamado Linha do Tempo, com textos e imagens desenhados na parede ou saídos de computadores – apresenta-se assim a saga da língua portuguesa desde a sua origem indo-européia até o “internetês” dos atuais chats de bate-papo. Com um simples movimento de mouse é possível ouvir em fones os sotaques característicos de todas as regiões do País no Mapa dos Falares do Brasil. Outra engenhoca que já provoca filas é o Beco das Palavras, um jogo de etimologia composto por três telas horizontais, nas quais se expõem sufixos e prefixos que podem ser juntados às palavras pelos visitantes. Ao se reunir, por exemplo, os termos bibli (livro) e tec (caixa), forma-se a palavra biblioteca – e a sua origem é assim exibida.

No primeiro andar, destinado às exposições temporárias, está montada a instalação Grande sertão: veredas, de Bia Lessa, em comemoração ao cinqüentenário do lançamento do livro de Guimarães Rosa. Reproduzidas em gigantescos banners, as páginas da terceira versão corrigida da obra (cedidas pelo bibliófilo José Mindlin) podem ser lidas por meio de um sistema de roldanas com sacos de terra como contrapeso. A escolha não poderia ser melhor. Grande sertão é a maior prova de que a língua portuguesa está exuberantemente viva. E a sua casa só poderia ser um museu voltado para o futuro.