O mais irreverente tablóide brasileiro virou livro: O Pasquim – antologia 1969–1971. Reúne passagens dos primeiros 150 exemplares desse jornal. O Brasil vivia a ditadura militar e ela foi o fermento da indignação política, das sátiras e do humor que rechearam as páginas da publicação. Prova disso é que em 1975, ao atender um telefonema de Brasília, o cartunista Jaguar levou a mão à cabeça após ouvir o seu interlocutor. “Acabou a censura. E agora?”, perguntou Jaguar a seus colegas de redação.

O Pasquim precisava mudar, o País dava os seus primeiros passos rumo à redemocratização e, assim, o jornal foi se adaptando a tempos mais brandos e sobreviveu por 22 anos (1969 a 1991). O Pasquim criou um estilo de entrevistas regadas a uísque que reuniam um time de gente famosa em torno dos entrevistados. Geralmente eram um festival de palavrões. Diversas delas estão agora no livro (editora Desiderata, 350 págs., R$ 69).

A atriz Leila Diniz, quando foi entrevistada nos anos de chumbo, destilou o seu estilo libertário em palavrões e mais palavrões. Eles acabaram substituídos por asteriscos. O bandido Madame Satã criou uma versão hilária para um de seus assassinatos: “O revólver é que disparou na minha mão.” Chico Buarque, auto-exilado na Itália, mandou para O Pasquim uma pesquisa imaginária atribuindo o título do jornal a um personagem que abalara Roma no século XV. Fizeram história os perfis saídos da pena de Vinícius de Moraes. E, ao entrevistar o escritor Gabriel García Márquez, o cineasta Glauber Rocha ouviu uma profecia: “Ninguém jamais filmará Cem anos de solidão”, disse o escritor referindo-se à obra que lhe dera o Nobel. Para Ziraldo, o melhor do jornal foram os fradinhos do cartunista Henfil. Mas ele admite: “Todos ali tinham muito talento."


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