Em Nassau, no paradisíaco arquipélago das Bahamas, não havia favelas – até que lá chegou um inglês muito famoso. O seu nome é Bond, James Bond, o mais popular espião do cinema em todo o mundo. No código do serviço secreto britânico, ele é conhecido também como agente 007. Pois bem, em Coral Harbour, na ponta oeste da ilha Nassau, uma dúzia de barracos foi erguido da noite para o dia e cerca de 350 refugiados haitianos passaram a ocupá-la. A rápida construção dessa favela deve-se à filmagem da nova aventura de James Bond. Ela é cenário de Casino Royale, o seu novo filme.

ISTOÉ esteve com exclusividade nos bastidores das filmagens nas Bahamas. Conferiu in loco se o novo James Bond, agora o ator inglês Daniel Craig, é digno da licença 007. Numa primeira inspeção, parece que os cenários respeitam as tradições dessa série de filmes que já tem 44 anos. O protagonista atual tem 38 anos e, portanto, nem era nascido quando o primeiro 007, a serviço de Sua Majestade britânica, salvou o mundo no filme Dr. No (1963). “Assisti ao meu primeiro 007 quando tinha 11 anos. Foi Moonraker, em 1979, com Roger Moore fazendo o papel do agente”, diz Craig. Na época ele era um garoto, hoje ele é um ator. E está trabalhando pesado: perdeu os incisivos superiores num soco equivocado desferido por um dublê no trecho das filmagens feito em Praga. Um dentista inglês o socorreu às pressas. A filmagem pôde continuar e ele, sorrir. Quanto às Bond Girls de agora, nas vestes exíguas das atrizes Eva Green e Caterina Murino, elas continuam a manter em beleza e estilo a estirpe de suas antecessoras nas telas.

Foi numa noite. Enquanto Craig conversava com ISTOÉ, podiam-se notar cortes e escoriações em suas mãos. Marcas recentes, deixadas poucas horas antes, quando ele filmava uma das perseguições de James Bond ao terrorista Mollaka. Ao assistir ao filme (estréia em novembro nos EUA) o público se convencerá de que a perseguição se dá na África. Mas o que é África na tela, é Bahamas na vida real.

Mollaka é o fabuloso dublê francês Sebastien Foucan, o inventor da free-running, uma espécie de exercício aeróbico radical em ambiente urbano. O homem é um gato. Sobe em coluna vertical de concreto usando apenas os pés e as mãos nuas. Faz isso com uma escavadeira gigante que o persegue procura esmagá-lo. Seu único machucado durante todas as filmagens foi um prosaico corte superficial no dedo indicador. “Me cortei fazendo a barba”, diz Sebastien. Ele é encontrado por Bond numa rinha onde uma fuinha (bicho que parece uma raposa de pernas curtas) enfrenta uma cobra. O terrorista percebe a tocaia e sai em disparada pela mata.

A “selva”, na verdade, é feita de árvores baixas do jardim de um motel desocupado e mais duas dúzias de vasos de plantas mudados de posição a cada progressão das filmagens. Uma mesma palmeirinha aparecerá na tela 200 vezes. Foi ela, aliás, que cortou as mãos e os punhos de Craig. Com tanta cena em favela e floresta, não esperem um James Bond impecavelmente vestido como foram os 007 anteriores – os trajes do agente em Casino Royale estão mais para traficante de drogas da Califórnia do que para espião da rainha da Grã-Bretanha. Mas aí entra o talento de Craig. Por ser um bom ator, certamente ele fará um James Bond denso e realista.