Uma união entre extremos do mercado financeiro foi saudada com champanhe na noite do domingo 19 quando, discretamente, o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, abriu sua residência para receber o titular do grupo American Express International, Edward Gilligan. Havia, entre eles, mais de um bilhão de motivos para um brinde. À tarde, depois de um ano e sete meses de negociações, ambos haviam assinado um detalhadíssimo contrato, com mais de mil páginas e dezenas de anexos, no qual o maior e mais popular banco privado brasileiro assumia as operações do mais nobre e exclusivo cartão de crédito em circulação no País. Preço ajustado: US$ 490 milhões ou, no câmbio atual, R$ 1,04 bilhão. A operação foi anunciada oficialmente ao meio-dia da segunda-feira 20. “Conquistamos um objeto do desejo”, resumiu a ISTOÉ o presidente Cypriano. “Saberemos cuidar bem dele.” Ele próprio não era um associado Amex. Com a compra, será.

O negócio está sacudindo o mercado dos cartões de crédito. Com 1,2 milhão de plásticos (6,9% do total em circulação) em mãos de uma clientela vip, dona de hábitos sofisticados e fortes gastos, o American Express imediatamente posiciona o Bradesco no alto da pirâmide social do consumo. O banco já distribui as bandeiras Visa e Mastercard, identificadas com a classe média. Tem, ainda, parcerias com redes de varejo popular, como Casas Bahia, nas quais emite e administra cartões de fidelização. Agora, alcança os ricos e muito ricos, com despesas mais altas por cartões, maior capacidade para o pagamento de anuidades e taxas de juros diferenciadas. A rede de agências Prime e Private, na qual o Bradesco tem mais de 300 mil clientes com renda acima de R$ 4 mil, será mobilizada para ampliar a circulação dos cartões Amex da linha Centurion: Green, Gold e Platinum. Com uma base de 8,7 milhões de cartões, o banco faturou no ano passado R$ 13,8 bilhões. Com muito menor circulação – o 1,2 milhão que passa a ser administrado pelo banco brasileiro –, o Amex, sozinho, movimentou R$ 8,9 bilhões.

Unibanco e Itaú também entraram na corrida para comprar os direitos de administração do Amex, mas o Bradesco não apenas foi o primeiro a fazer a prospecção como acertou uma cláusula pré-contratual que fez a diferença no final. Em agosto de 2004, o setor de cartões de crédito do banco mostrou à diretoria que a compra do Amex poderia ser vantajosa. Os executivos receberam sinal verde para ir adiante. Eles perceberam que os americanos do Amex tinham disposição para venda, obedecendo a uma recente diretriz interna de alianças com grandes instituições. Até dois anos atrás, o Amex havia optado por operações exclusivas, com a própria companhia distribuindo e administrando o fluxo financeiro de seus cartões. O primeiro contato foi seguido de idas e vindas, no eixo São Paulo–Nova York, de delegações das duas partes. Os americanos se impressionaram com o tamanho da rede de atendimento automático do Bradesco, com 25 mil caixas eletrônicos. Também se surpreenderam com as agências para os clientes mais endinheirados.

No ano passado, os brasileiros fizeram a primeira oferta pelo Amex. Pouco depois, garantiram que, se houvesse outros interessados, caberia ao próprio banco fazer a última oferta. Essa cláusula limitou a ação dos concorrentes. “Foi uma vitória do planejamento e da estratégia”, diz o vice-presidente do Bradesco, Arnaldo Vieira. “Agregamos valor à nossa marca.” Hoje com 10,7% do mercado, o Bradesco irá para 17,7% com a aquisição, superando Itaú e Banco do Brasil, ambos com 13%.

O Amex também passa ao Bradesco suas operações de corretagem de seguros, serviços de viagens, câmbio e operações de crédito direto ao consumidor. O uso da marca será válido por dez anos, renovados por mais dez. Quanto mais cartões Amex expedir, mais o Bradesco pagará royalties para os americanos. O contrato será analisado pelo Banco Central. Com o parecer favorável, o pagamento será à vista.