Ciência & Tecnologia

A herança genética dos fenícios
Pesquisa revela que um em cada 17 habitantes da região Mediterrânea ainda possui genes do povo que dominou o comércio por mil anos antes da era cristã

Luciana Sgarbi
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Quando o tempo apaga as provas físicas da existência de um passado brilhante, a genética abre caminho para uma grande descoberta. Foi assim com o estudo do centro americano de pesquisa Genographic Projetic, através do qual uma equipe de cientistas finalmente encontrou os vestígios daqueles que são considerados um dos mais criativos e inventivos povos que a história da humanidade já registrou. Trata-se da civilização fenícia, estabelecida entre os séculos X e V antes de Cristo e que dominou por cerca de mil anos toda a rota comercial marítima do Mediterrâneo. Apesar de terem ocupado uma estreita área com aproximadamente 40 quilômetros de largura, entre o Mediterrâneo e as montanhas do Líbano, os fenícios ultrapassaram seus limites geográficos para conquistar e influenciar o mundo – e, através da hereditariedade e da genética, influenciam até os dias atuais. Estratégicos, organizavam-se em castas e criaram um alfabeto fonético simplificado para facilitar a escrita comercial. Com cerca de 22 letras, inovou em relação a outros sistemas de escrita da Antigüidade pelo fato de ele se basear em sinais representando sons. Dele desenvolveu-se grande parte dos alfabetos utilizados atualmente no mundo.
Tudo ao redor dos fenícios era explorado para possíveis negociações (pode-se dizer que eles tinham o DNA de comerciantes) e, assim, as suas praias repletas de molusco múrice tornaram-se rentáveis – desse molusco extraíam corantes que serviam para tingir tecidos. Diante de descobertas tão importantes, era difícil aceitar que esse povo tivesse sido solapado pelo tempo e que apenas curtas inscrições em pedra comprovassem a sua existência. "Isso é o que imaginávamos antes desse estudo. Os fenícios nos deixaram muito mais que o alfabeto. Deixaram seus genes geniais", diz o americano Chris Tyler-Smith, um dos autores da pesquisa.
Através de métodos de análise genética, publicados pela revista American Journal of Human Genetics, constatou-se que, atualmente, um em cada 17 habitantes da região do Mediterrâneo provavelmente tem raízes fenícias. Segundo Tyler-Smith, o estudo em questão foi um grande desafio: "A única coisa que possuíamos para nos guiar era a história. Sabíamos onde eles tinham se estabelecido e onde não tinham chegado." Foi, portanto, com o auxílio do alto patamar de desenvolvimento da genética moderna que se pôde mapear minuciosamente os seus descendentes. Essa civilização durou até sucumbir diante do Império Romano e, nos séculos seguintes, muito do que restou desse povo se perdeu ou foi destruído. Como quem procura algo sem saber se de fato existiu, o novo método analítico buscou características genéticas em homens modernos por meio do cromossomo Y (masculino). Entre outras regiões, as características fenícias mais marcantes estão, por exemplo, na Espanha, Gibraltar, Mônaco, Itália, Albânia, Grécia, Chipre, Turquia, Síria, Líbano, Israel, Palestina, Egito, Tunísia, Argélia e Marrocos.
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Vale observar que nos países "influenciados diretamente e geneticamente" pelos fenícios o Produto Interno Bruto gira em torno dos US$ 200 bilhões anuais. Segundo o Fundo Monetário Internacional, "a região do Mediterrâneo possui uma das melhores economias do planeta e o peso genético nesse fenômeno é de cerca de 6%". Ou seja: "uma criança em cada escola, desde o Chipre até a Tunísia, pode ser um descendente direto dos competentes comerciantes fenícios", diz Daniel Platt, membro do Centro de Pesquisa IBM T. J. Watson.

 

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