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Como numa fileira de dominós na qual basta derrubar a primeira pedra para que as demais também caiam, a semana passada foi marcada por intensos abalos sísmicos em quatro pontos do Oceano Pacífico. Na terça-feira 29, nas ilhas de Samoa Ocidental e Samoa Americana, casas e carros foram arrastados por gigantescos paredões de água em um tsunami com ondas de até dez metros. Pelo menos 170 pessoas morreram. Vinte e quatro horas depois, o alvo da natureza em fúria foi a cidade de Padong, na ilha de Sumatra. Ali, a situação se fez ainda mais dramática. Um forte tremor com magnitude de 7,6 graus na Escala Richter (que vai de 0 a 9) ceifou 1,1 mil vidas humanas. No mesmo dia, do outro lado do oceano, o sudeste do Peru foi atingido por um terremoto de 5,9 graus, sem causar maiores danos ou vítimas fatais.

Na quinta-feira 1o, os habitantes do mesmo arquipélago de Samoa viram-se novamente castigados com a chegada de mais um tsunami. As quatro localidades fazem parte do chamado Círculo de Fogo do Pacífico, uma das regiões mais perigosas do mundo, onde se registram diariamente, em média, 20 tremores.

Essa área de 120 mil quilômetros quadrados é um ponto de convergência de placas tectônicas muito ativas. E os serviços de alerta falharam mais uma vez. "A tecnologia já permite a identificação de um grande tremor, mas o aviso chega sempre tarde demais", diz a sismóloga Célia Fernandes, do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP. Segundo ela, quanto mais próximo do epicentro o tsunami se formar, mais difícil será antecipar a sua chegada: "Foi exatamente o que aconteceu em Samoa. O tremor foi identificado, mas o tsunami formou-se rápido demais".

A pesquisadora explica que no Japão o serviço funcionou por causa da distância do epicentro. Foi possível prever até o tamanho das ondas que atingiram a costa, de cerca de meio metro. Das 170 mortes causadas pelo tsunami, dezenas ocorreram em Samoa Americana (território pertencente aos EUA), e mais de uma centena em Samoa Ocidental e sete na ilha de Tonga. O presidente americano, Barack Obama, declarou situação de desastre em Samoa Americana e liberou recursos e avião militar C-130 para o resgate. A União Europeia e a Cruz Vermelha somaram- se nos esforços.

Na ilha de Sumatra a tragédia foi mais intensa e o número de mortos, muito maior. Devido ao desabamento de hospitais, médicos realizavam cirurgias em estacionamentos e barracas. Com a queda das linhas telefônicas, a comunicação ficou ainda mais difícil, o que levou centenas de pessoas a lotarem o aeroporto da cidade de Padong em busca de informações sobre parentes e amigos. "Está sendo um grande e triste desafio", diz o médico americano David Lange, membro da organização de auxílio Surfaid International.

Os geólogos ressaltam que o tremor que abalou Padong aconteceu nas proximidades da mesma falha geológica onde ocorreu o tsunami de 2004, responsável por mais de 230 mil mortes. "Enquanto os sismógrafos não identificarem tremores com mais antecedência, o melhor a fazer é melhorar a estrutura dos lugares mais vulneráveis", diz a sismóloga Célia. Isso foi o que ocorreu no Japão, onde cientistas e engenheiros criaram um avançado sistema de molas empregado na fundação dos edifícios. Graças a ele, os prédios balançam por igual durante os tremores, o que evita desabamentos.

Nos EUA, a técnica é intercalar camadas de borracha natural e chapas de aço na construção. Já a Marinha chilena instalou no litoral do país, a 4.700 metros de profundidade, um sensor de pressão que capta os tremores e repassa as informações via satélite para o serviço hidrográfico da sua marinha.

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