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Até que ponto a pessoa famosa pode escolher quando (e se) quer revelar as suas intimidades? Quando os paparazzi entram em cena, fica difícil escolher. Muitas vezes, a celebridade vira refém. Foi o que ocorreu com a atriz Paola Oliveira, que se viu obrigada a confirmar o relacionamento com o ator Joaquim Lopes após resistir durante semanas ao cerco dos fotógrafos. "Estou assumindo agora para saberem logo quem é o cara e evitar esta perseguição", disse ela ao Ego, site de celebridades. "Tinha até paparazzo dormindo na porta da minha casa. Não quero isso para mim." O momento talvez não fosse o mais adequado para a revelação, uma vez que o rapaz se divorciou há apenas um mês da atriz Thais Fersoza – o casamento terminou logo após o retorno da lua de mel. Mas depois da foto-flagra de Paola e Joaquim na praia, publicada em agosto, estava cada vez mais difícil negar as evidências.

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O paparazzo é um dos poucos profissionais que não têm vergonha de assumir que a base do seu trabalho é o politicamente incorreto. Para conseguir o flagra perfeito, a imagem exclusiva e reveladora, ele não mede esforços. "O verdadeiro profissional faz a foto de tocaia e paga as suas fontes. Suborna porteiro, manobrista e garçom para conseguir as informações", conta o fotógrafo e ex-paparazzo Carlos Zambrotti.

A profissão gera controvérsia por transitar na fronteira obscura entre o "interesse público" e o "interesse do público". No Exterior, é um mercado consolidado. No Brasil, é recente, mas está em expansão. A líder no segmento é a Agnews, que há cinco anos se voltou para o mercado de celebridades e conta hoje com 23 profissionais em seus quadros. Segundo a agência, essas fotos movimentam R$ 3 milhões por ano no Brasil e US$ 30 milhões (R$ 55 milhões) no mundo. Além das quatro maiores revistas especializadas no segmento no País, há inúmeros sites que investem neste filão e também publicam flagras.

A relação entre os paparazzi e os famosos não costuma ser das mais harmoniosas. Há duas semanas, chegou aos tribunais uma ação movida por dois fotógrafos que dizem ter sido alvejados por tiros dados por seguranças da top Gisele Bündchen e de seu marido, Tom Brady, enquanto tentavam fotografar o casamento deles na Costa Rica. Os paparazzi reivindicam do casal US$ 1 milhão de indenização. No ano passado, o ator Murilo Benício chegou a declarar que gostaria que todos os paparazzi morressem. "Eles são uma facção", declarou na época. Em 2007, o ator Fábio Assunção perseguiu de carro e quis bater em Zambrotti, que tentava fotografálo em um restaurante com uma moça.

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Mas há maneiras mais amistosas de desarmá-los. "O Marcos Palmeira sempre faz um sinal de ‘legal’ e sorri para a câmera quando nos encontra", diz André Freitas, da Agnews. "Foto feliz e consentida vale pouco." Outro truque da celebridade é usar sempre a mesma roupa ao sair de casa, pois fica difícil provar que a foto é atual e exclusiva. Declarar que está assumindo um namoro, como fez Paola Oliveira, também é uma estratégia. Assim, o flagra de um beijo, por exemplo, deixa de ter valor. "Ela fez isso para queimar a foto", acredita Freitas.

Na opinião do advogado Rubens Tilkian, especialista em direito digital, os tribunais brasileiros não desestimulam a invasão de privacidade. Tilkian conseguiu proibir, por liminar, a exibição na internet do vídeo de Daniella Cicarelli em cenas tórridas com o namorado em uma praia na Espanha. "Os paparazzi não encontram na Justiça brasileira uma barreira efetiva", diz ele. "A fixação de valores por dano moral é baixa. As penas devem ser altas para desestimular a prática; do contrário, o risco compensa." É uma tendência no Brasil evitar a indústria de enriquecimento pelo dano moral, o que ocorre nos Estados Unidos, onde as indenizações são milionárias.

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O curioso é que, com o avanço da tecnologia, qualquer um hoje pode ser paparazzo. Basta estar no lugar certo, na hora certa, e com uma câmera digital ou um celular registrar um flagra e vender a foto. O Rio de Janeiro, a nossa Hollywood, é o local mais propício para ver e ser visto. Por isso, a celebridade que quer ser fotografada passeia pela orla de Ipanema, vai ao restaurante Celeiro e à Livraria Letras e Expressões, no Leblon, e faz compras no shopping Fashion Mall, em São Conrado. Assim, tem a certeza de que será clicado.

Fotos: Rainer Holz/Corbis; Marcio Honorato/ag. news