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Quando às 13h34, na sextafeira 2, foi oficialmente anunciado que o Rio de Janeiro sediará a Olimpíada de 2016, um grito ecoou da delegação brasileira em Copenhague. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assessores, ministros, atletas e personalidades riam, choravam e se abraçavam, emocionados com o feito. Pela primeira vez, os Jogos Olímpicos serão realizados na América do Sul. Do outro lado do Atlântico, no Rio, Copacabana explodiu em festa. Uma chuva de papel picado caiu sobre as mais de 30 mil pessoas, a maioria vestida de verde e amarelo, que foram acompanhar em um telão da praia a decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI). A comemoração se estendeu para outras capitais brasileiras.

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A escolha do Rio como cidade-sede coroa a boa fase de projeção internacional que o Brasil vive. A tão sonhada cadeira no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) ainda não veio, mas o País mostra que caminha a passos largos para virar uma potência mundial. Em Copenhague, Lula era o retrato da emoção. “Quem estava aí para votar viu que a gente estava com a alma, com o coração, erao único país de verdade que queria fazer uma Olimpíada”, disse, logo após o anúncio. Sentado na primeira fila, sem disfarçar o nervosismo, ele fez o sinal da cruz antes do anúncio.

A emoção deu o tom da apresentação brasileira. O vídeo final produzido pelo cineasta Fernando Meirelles mesclando belas imagens do Rio com pessoas praticando esportes ao ar livre ao som de música brasileira, que terminava com os anéis olímpicos na praia, foi praticamente perfeito. A candidatura custou mais de R$ 100 milhões. Mas valeu a pena. Além da vibração, desta vez o Brasil apresentou um plano consistente tecnicamente. “A Olimpíada vai ser o ápice do planejamento, de financiamento e de organização. Estamos prontos e nossa população também”, disse o governador Sérgio Cabral. “Os Jogos serão um ponto de virada na história do Rio de Janeiro”, comemorou o prefeito Eduardo Paes.

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A vitória brasileira começou a se desenhar quando o presidente do COI, Jacques Rogge, anunciou, às 12h26, que a cidade americana de Chicago havia sido eliminada. Até então, era considerada a principal rival do Rio. A presença do presidente Barack Obama e sua mulher chegou a assustar a delegação brasileira. Mas, ao final, serviu para sacramentar uma visão que meses antes era apontada pelo próprio presidente dos EUA:

Mesmo com a presença do ame ricano Obama, Brasil elimina Chicago na prime ira batalha e ganha de virada de madri o direito de sediar a Olimpíada

“Lula é o cara.” A multidão em Copacabana comemorou o fato como se fosse um gol. “Michele e Obama, venham conhecer nosso feijão com arroz e nossa banana frita”, tripudiava um cartaz no meio do povo. Em seguida, Tóquio saiu do páreo. A final, entre o Rio e Madri foi uma lavada: 66 votos a 32. Antes, a expectativa era de uma vitória apertada. Com a escolha, uma aura de otimismo tomou conta do País. Até a Bovespa, que operava em baixa, fechou em alta de 1,18%. O desafio agora é transformar o Rio possível, que encantou os jurados do COI, no Rio realmente viável.

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Para que o evento tenha sucesso estão previstas obras de infraestrutura que vão demandar cerca de R$ 23 bilhões de investimentos e se espalharão pelas quatro regiões da cidade. No que depender da União, não haverá problemas, garante a ministra-chefe e presidenciável Dilma Rousseff, que imediatamente capitalizou politicamente a conquista. Ela assistiu à decisão dentro do hotel Copacabana Palace, vestindo uma camiseta com as cores nacionais e a frase “I love Rio”. “O governo federal vai fazer tudo para que a Olimpíada do Rio seja a melhor de todos os tempos”, prometeu. Dilma, porém, não quis dar palpites sobre se ela própria estaria à frente do governo federal para garantir esses recursos em 2016. Nos 20 meses de preparação, as três esferas de governo jogaram de forma bastante entrosada. O projeto apresentado ao COI mostrava que muitas obras necessárias já estavam em andamento, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e várias outras contratadas. “Não ficamos apenas dizendo o que iríamos fazer, mostramos o que já tínhamos feito”, explicou o ministro do Esporte, Orlando Silva. O profissionalismo incluiu a contratação do marqueteiro inglês Mike Lee e de uma equipe da Disney, que produziu o vídeo apresentando as instalações olímpicas.

Todos os chefes de Estado e governo foram defender as candidaturas de seus países. Do Brasil, além de autoridades e esportistas como Guga, Pelé, César Cielo, outras celebridades brasileiras, como Paulo Coelho, se juntaram aos políticos para assistir à cerimônia – e fazer lobby pelo País. Mas não havia como negar: a conquista brasileira foi antes de tudo uma vitória política inédita. Para as eleições de 2010 que se avizinham, ela certamente será uma importante arma. Para o País como um todo será talvez o início de uma nova onda de investimentos sem precedentes. Um estudo do Ministério do Esporte indica que os Jogos vão gerar impacto positivo de R$ 90 bilhões (leia quadro ao lado). O turismo é o segmento mais eufórico: oito a dez mil quartos de hotel deverão ser criados nos próximos sete anos. Outros ramos de negócio também serão turbinados. “Todos os setores da ecoemoção nomia vão se beneficiar, até Estados vizinhos serão beneficiados”, avalia a economista Luciana de Sá, diretora da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

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A julgar pela festa dos cariocas, o evento contará com a colaboração total da população. “A cidade está preparada, vai ser muito bom para nós”, exultava o aeronauta aposentado Luiz Carlos Negrini, 60 anos. Ele viajou 50 km de Niterói até Copacabana na sua motocicleta Yamaha decorada com bandeiras nacionais, carregando duas cadelas cocker spaniel, Nani Esmeraldina e Catarina. Para os esportistas, não poderia haver notícia melhor. “Os Jogos vão abrir muitas possibilidades. Teremos mais atletas competindo e uma motivação muito grande para as crianças praticarem esportes”, disse Cielo, um campeão olímpico. A ginasta Jade Barbosa aposta na hospitalidade carioca. “Durante o Pan, as pessoas mostraram que sabem receber, quiseram muito e apoiaram”, lembra ela. Muitas providências são necessárias para que o evento alcance o alto nível de Pequim, que, certamente, também se verificará em Londres em 2012. Por isso, é preciso começar a trabalhar já para o País fazer as conquistas que almeja em 2016.

Colaboraram: Wilson Aquino, Adriana Prado, Maíra Magro e Renata Cabral