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Uma pequena sala no terceiro andar do anexo 1 do Itamaraty abriga um gabinete de crise. Um grupo de diplomatas trabalha até 14 horas por dia no acompanhamento do embate diplomático com Honduras, iniciado no dia 21 de setembro, quando o presidente deposto, Manuel Zelaya, instalou-se na embaixada do Brasil em Tegucigalpa.

Antes do impasse, ali era o local de trabalho do chefe da Divisão de México e América Central, Renato Viana, o primeiro diplomata em Brasília a falar com Zelaya. A sala ganhou tevê a cabo e as linhas telefônicas foram remanejadas. O computador mereceu um upgrade. Durante a semana, Viana reuniu-se com os demais embaixadores cinco vezes por dia no QG da crise e manteve contato com o encarregado de negócios em Honduras, Francisco Catunda, a cada seis horas.

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Na noite da terçafeira 29, enquanto Viana repassava seus relatórios aos superiores no 6º andar, o celular tocou. Era o ministro-conselheiro Lineu Pupo de Paula, enviado pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para apoiar Catunda. "Fui proibido de deixar a embaixada, enquanto o governo de fato não for reconhecido."

O clima ficou tenso. Assustado, Viana tapou o fone e mirou o embaixador Gonçalo de Mello Mourão, que estava a seu lado: "A situação complicou." O embaixador recomendou: "Fale para ele ficar lá mesmo e evitar qualquer atitude que configure um reconhecimento do governo golpista." Pelo fax, chegou informe do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenando "nos mais firmes termos" o cerco à embaixada.

Pela tevê, Viana soube da decisão do chefe do governo de fato, Roberto Micheletti, de fechar uma emissora de rádio e outra de tevê favoráveis a Zelaya, o que provocou uma onda de protestos. Com base no relato de Catunda sobre o clima tenso nas ruas, Viana elaborou mais um relatório. As informações foram levadas por Amorim para um almoço com deputados.

"É melhor vocês esperarem até as coisas acalmarem para ir lá", aconselhou o chanceler. Em seguida correu para o Senado, onde revelou que no começo de julho Zelaya pediu um avião para voltar a Honduras: "Mas eu disse não." Na quarta-feira 23, uma boa notícia chegou ao QG da crise. "Não vamos fazer nada que quebre os acordos internacionais.

Zelaya pode ficar lá na embaixada o quanto quiser. Tudo que precisamos é que o Brasil garanta que sua missão não seja usada para campanha política", dizia uma carta de Micheletti. O alívio no Itamaraty, no entanto, duraria pouco. No início da tarde, apoiadores de Zelaya voltaram a tomar as ruas e um grupo, liderado pelo presidente nacional da Via Campesina, Rafael Alegria, invadiu o Instituto Nacional Agrário.

O Exército prendeu 55 manifestantes. Mais tarde, segundo informes, Zelaya baixara o tom. O Itamaraty, então, deu sinal verde para a viagem de seis deputados brasileiros. Depois de se reunirem com Zelaya, eles contaram que os dois lados estão em entendimentos para a restituição do deposto e a realização da eleição em 29 de novembro. Mas, Viana, no QG, soube de ações para financiar a resistência. Uma conta foi aberta em Bruxelas para esse fim. No entanto, Amorim acredita que a solução será rápida. "Não sou ingênuo. A situação é grave, mas estou otimista", disse o ministro.