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AFAGOS
Ahmadinejad (à esq.) com o presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, em encontro na semana passada: parceria perigosa

Uma das primeiras medidas da presidenta Dilma Rousseff na política externa foi mandar suspender as iniciativas de aproximação com o Irã. O país, sob a tutela do radical Mahmoud Ahmadinejad, tornou-se um celeiro de problemas. Violações aos direitos humanos, ameaças a Israel e um programa nuclear suspeito compõem a equação iraniana. O recuo estratégico de Dilma, no entanto, não é garantia de que o Brasil conseguirá ficar alheio às provocações do presidente iraniano. Cada vez é maior a aproximação com países latinos, especialmente aqueles que compartilham das teorias conspiratórias de Ahmadinejad. A passagem por Cuba, Venezuela, Nicarágua e Equador, na semana passada, é um sinal claro dessa ofensiva. Muitas das ações de Teerã, porém, ocorrem às sombras. Há pouco menos de três meses, o governo iraniano firmou com a Guiana um acordo secreto para a compra de urânio. Fontes diplomáticas revelaram à ISTOÉ que o contrato foi selado na segunda semana de outubro de 2011, por meio da troca de cartas oficiais assinadas por ambos os presidentes.

As negociações começaram no fim de 2009 e se intensificaram após a visita do ex-presidente da Guiana Bharrat Jagdeo à capital iraniana em janeiro de 2010. Na ocasião, Ahmadinejad exigiu exclusividade, mas o presidente guianês alegou que não teria lucro com apenas um cliente do tamanho do Irã. Mesmo sem o consenso, os dois decidiram manter o diálogo aberto. Nada avançou até a divulgação no ano passado de relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), alertando sobre a possível dimensão militar do programa nuclear iraniano.

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ATAQUE
Carro destruído do cientista Roshan: o serviço secreto de Israel é o principal suspeito

Ciente de que o documento levaria a ONU a ampliar as sanções, o presidente iraniano decidiu que era hora de replicar as fontes de abastecimento de urânio. Reuniu-se com seus principais assessores e delegou ao chanceler Ali Akbar Salehi a tarefa de retomar as negociações imediatamente. Em setembro do ano passado, desembarcaram em Georgetown, capital da Guiana, três assessores diretos de Ahmadinejad com a missão de acertar os detalhes do acordo. O documento secreto foi firmado por Bharrat Jagdeo e depois enviado a Ahmadinejad, que pôs sua assinatura nas duas vias e devolveu uma. O pacto, segundo apurou a reportagem de ISTOÉ, prevê o financiamento total das pesquisas geológicas das jazidas, bem como o estabelecimento das minas e a produção do yellowcake, uma espécie de pasta-base usada no processo de enriquecimento de urânio. Uma das cláusulas garante ao governo iraniano a aquisição preferencial de toda a produção, por dez anos, a preço de mercado.

A revelação desse acordo sigiloso entre Irã e Guiana se soma à notícia de que uma segunda usina de enriquecimento de urânio está sendo construída em um bunker localizado próximo à cidade de Qom, no Irã. Estados Unidos, França e Reino Unido avisaram na semana passada que vão promover retaliações. “Começaremos um amplo esforço diplomático internacional para intensificar a pressão sobre o Irã”, disse o secretário americano do Tesouro, Timothy Geithner, em visita ofical à China. “Não podemos esperar que algo mais grave aconteça.”

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O presidente iraniano garante que o programa nuclear de seu país tem fins pacíficos, embora a comunidade internacional tenha motivos de sobra para duvidar de suas palavras. “Dizem o tempo todo que nós estamos fazendo bombas nucleares”, afirmou um sorridente Ahmadinejad na terça-feira 10, em Caracas, ao lado do presidente venezuelano, Hugo Chávez. “Isso é uma piada. Eles têm medo é do nosso desenvolvimento.” Ahmadinejad assistiu à posse do presidente reeleito da Nicarágua, Daniel Ortega, e também esteve em Havana (Cuba) e em Quito (Equador). Mesmo sem pisar em território brasileiro, ele poucas vezes esteve tão próximo do Brasil.  

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