Transição/ Galeria Leme, SP/ até 15/2

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NAVEGANTES
Retrato da Galeria Leme, por João Pedro Vale (acima), e escultura de restos de demolição, de André Komatsu

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Como outras tantas regiões da zona sul paulistana, o bairro do Butatan tem hoje sua paisagem rapidamente modificada pelos efeitos do crescimento da construção civil e da especulação imobiliária – além da bem-vinda chegada de uma nova estação do metrô.

Os carpinteiros e serralheiros, que desde 2004 dividiam a rua Agostinho Cantu com a Galeria Leme, não estão mais ali. A própria galeria não está mais no mesmo local, já que teve seu terreno comprado pela empresa Odebrecht, para a construção de sua nova sede. Desde 4 de janeiro, porém, a Leme está funcionando a apenas duas quadras de distância do endereço antigo. E, o mais surpreendente, com o mesmo projeto arquitetônico de Paulo Mendes da Rocha. “Sou superfiel ao Paulo Mendes. O projeto é dele e não queria perdê-lo.
Então decidimos repetir o projeto, onde o terreno e a localização fossem semelhantes. Fizemos só algumas mudanças”, diz Leme.

A obra teve início em junho de 2011 e em dezembro já estava finalizada. Esses seis meses de reconstrução formam o cenário de “Transição”, uma “exposição em progresso”, com trabalhos de 12 artistas convidados por Leme a acompanhar o processo de transposição de um espaço a outro. Marcelo Cidade, André Komatsu e João Loureiro, artistas representados pela Galeria Vermelho, integraram o projeto como residentes visitantes e fizeram obras a partir dos escombros do antigo edifício. Em “Enchendo o Saco 2”, Cidade criou uma instalação com os restos de cimento e plástico da demolição. Komatsu criou “Inadequação Modular”, escultura comparativa entre os tamanhos dos blocos de cimento da antiga e da nova galeria, feita com um tijolo de concreto encontrado nos escombros.

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Já o português João Pedro Vale fez uma leitura poética, sem apropriação de rastros da mudança. Em “The Floaters”, ele pintou o retrato do edifício da Leme sobre placa de cerâmica, em continuidade aos trabalhos realizados durante residência artística na cidade litorânea de P-Town, nos EUA. Ali existia uma comunidade de pescadores chamada Long Point, que se dedicava à extração de sal para a conservação de peixes e entrou em declínio no início do século XIX. A comunidade foi integrada à cidade de P-Town e, uma vez que os custos de madeira e construção eram muito elevados, optou-se por transportar as casas em jangadas. Hoje conhecidas como The Floaters (Flutuantes), essas casas são identificadas por placas como a que Vale fez para a Leme. “O projeto em São Paulo se assemelhava ao processo de deslocamento: a mesma galeria foi transportada para outro lugar”, explica Vale, cujo trabalho é um dos grandes destaques da mostra.  


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