De futebol ela não entende absolutamente nada, nem sabe direito o que significa Fifa. Sem trocadilho com o esporte, o seu grande lance é outro, é pintar. E nesse campo ela atua tão bem que até a Fifa sabe o que significa atualmente, no mundo das artes plásticas, o nome da brasileira Beatriz Milhazes. Conclusão: ela é a única artista plástica latino-americana convidada a criar uma obra para a série Art posters – evento comemorativo da Copa do Mundo da Alemanha. Duas credenciais de Beatriz: o seu nome está no acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York, o tradicional MoMa, com a tela Avenida Brasil. Outro de seus trabalhos, o quadro O peixe, foi arrematado num leilão da Sotheby’s de Londres pela cifra de US$ 270 mil, o mais alto valor alcançado por um artista brasileiro vivo – nesse mesmo leilão, telas de Di Cavalcanti, já falecido mas mundialmente consagrado, foram arrematadas por US$ 200 mil. “Não planejei nada na minha carreira artística, mas quando as oportunidades foram aparecendo eu as agarrei com unhas e dentes”, diz Beatriz. Quem ouve essas palavras pode imaginar que as coisas acontecem apenas por acaso na vida dessa carioca de 46 anos. Engano. Ela trabalha duro e é extremamente disciplinada e perseverante em seu ofício – como alguém que segue o princípio de que a arte é 90% transpiração, 10% inspiração. “Dez por cento, se tanto”, diz ela. “Não paro de buscar técnicas, traços e cores novas.” Beatriz pinta, com tinta acrílica, imagens coloridas sobre plástico e as repassa à tela, como num decalque. “O plástico não absorve nada da cor e ela permanece pura, no estado em que foi criada”, diz a artista, que, em seu ateliê no Rio de Janeiro, no bairro do Jardim Botânico, acumula um infinito repertório de moldes que superpõe às telas.

Após a sua primeira exposição em Londres em 1999, os convites se sucederam. E foi justamente o show de cores das obras de Beatriz que seduziu o mundo. Em Londres, há um painel de sua autoria na Tate Modern e uma de suas instalações está na estação do metrô de Gloucester Road. Em Berlim, ela inaugurará no final deste mês uma mostra na galeria Max Hetzler. “Eu agrado aos anglo-saxões por ter desenvolvido uma nova relação entre as cores. Eles gostam de quem acrescenta novas formas de pensar e conceber a arte”, diz a artista. O que Beatriz ainda não sabe, mas logo vai descobrir, é o motivo pelo qual os chineses também admiram o seu trabalho: ela está sendo anunciada na China como uma das grandes atrações da Bienal de Xangai, que se realizará em outubro. A arte de Beatriz Milhazes já encantou o estilista francês Christian Lacroix, que a entrevistou para um livro. Foi apenas o primeiro texto significativo a tratar dela. No ano passado, a brasileira foi alçada à capa do livro Art now, publicação alemã que homenageia os melhores pintores do mundo – e que de tão rigorosa sai apenas de três em três anos. Também no Brasil, Beatriz terá uma retrospectiva de sua obra reunida em livro pela editora Francisco Alves, com texto crítico de Paulo Herkenhoff. E nas lojas de discos, o seu nome e as suas cores estão na colorida capa do CD Universo ao meu redor, de sua amiga Marisa Monte.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias