Dor e sofrimento é tudo que países civilizados, alinhados com a contemporaneidade dos princípios da OMS, evitam causar em enfermos mentais – e o usuário de crack, antes de ser bandido é um dependente químico e, portanto, enfermo mental. Ele cheira mal, ele incomoda, ele rouba, ele fere, mas é doente. Para o governo do Estado de São Paulo, no entanto, causar “dor e sofrimento” é a “estratégia” capaz de levar os dependentes da região paulistana da “cracolândia” a procurar auxílio. Na semana passada, a PM tomou a área: houve prisões, tiros com balas de borracha e o exagero de 400 pessoas abordadas para a ínfima quantidade de 100 pedras de crack apreendidas. “Não é pela razão, mas sim pelo sofrimento que o usuário vai se tratar”, filosofa Luiz Alberto de Oliveira, coordenador de Políticas sobre Drogas do Estado de São Paulo. “Não conheço estudo científico que comprove que pessoa em abstinência procure tratamento”, diz o promotor de Justiça da Saúde Arthur Pinto Filho.