“Eu perdi o meu medo, o meu medo, o meu medo da chuva, pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar”, já dizia Raul Seixas. Em Brasília, as autoridades andam com pavor de novas tempestades e trovoadas. E agora, com a volta da temporada das águas, muita gente anda com mais medo de se queimar do que de se molhar.

No Brasil, a chuva voltando também traz coisas do ar. Especialmente a lembrança de tragédias recentes, como as de Angra dos Reis, da Zona da Mata pernambucana e a mais grave de todas: a catástrofe da serra fluminense, no ano passado, que deixou quase mil mortos.

Será que isso pode acontecer de novo? E, se acontecer, de quem é a culpa? Gleisi Hoffmann, a ministra da Casa Civil, já interrompeu suas férias para liderar uma intervenção branca no Ministério da Integração Nacional. Fernando Bezerra, o titular da pasta, justifica o repasse maior de verbas a seu Estado natal, lembrando que Pernambuco apresentou mais e melhores projetos. Sérgio Cabral, governador do Rio, já começou a reequipar seus hospitais antes mesmo dos deslizamentos. E Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, garante que o sistema de prevenção e alarmes contra enchentes, implantado no ano passado, já funciona a contento.

Será? As primeiras mortes causadas pelas chuvas, desta vez em Minas Gerais, revelam que o Brasil, embora “bonito por natureza e abençoado por Deus”, ainda é um país muito vulnerável a chuvas e trovoadas. E que as informações climáticas e a defesa civil, muitas vezes, chegam tarde demais aos palcos das tragédias.

A diferença salutar é que, desta vez, os governos, em todas as esferas, não parecem estar gozando férias. Nas tragédias anteriores, enquanto os morros desabavam, governadores, prefeitos e ministros passeavam na Europa. Desta vez, com medo da chuva, estão mais atentos – e provavelmente acendendo velas para São Pedro. Talvez porque 2012 seja ano de eleições municipais.