chamada.jpg
TÉCNICA
A imaginação é estimulada nos livros e ajuda a dar cara aos sentimentos

Segundo os dados mais recentes da Associação Nacional de Livrarias (ANL), os dois segmentos que mais vendem livros no Brasil são os de títulos infantojuvenis e os de autoajuda. Não demorou para que o mercado editorial prestasse atenção a esses números e unisse os filões, numa fórmula que já faz bastante sucesso no Exterior. Há nas prateleiras nacionais vários lançamentos de autoajuda infantil, destinados a crianças a partir de 2 anos de idade, e que se propõem a discutir questões como ansiedade, timidez e até a morte de um ente querido. Tudo numa linguagem direcionada para os pequenos. “Nas nossas obras, usamos um dos recursos mais abundantes às crianças, a imaginação, para ajudá-las a lidar com as dificuldades do dia a dia”, afirma Ruth Souza, psicóloga, especialista em psicopatologia da criança e coautora da série “Faça Seu Mundo Melhor”, com seis livros lançados simultaneamente no fim de 2011 em parceria com a jornalista Roberta Ribeiro.

Nos Estados Unidos, o segmento já tem mais de três mil títulos. Ruth entende o fenômeno como reflexo do mundo em que vivemos, onde o acesso às fontes com potencial de gerar ansiedade e medo se multiplica em telas de televisão, celular e computador. “Não queremos que a criança se isole numa bolha de imaginação que a blinde dos problemas do mundo”, afirma a psicóloga. “Nosso objetivo é dar ferramentas para que elas lidem de maneira mais positiva com o dilúvio de estímulos que recebem.”

Mas, assim como a autoajuda para adultos, a versão para crianças tem seus detratores. Para Neide Noffs, coordenadora do curso de psicopedagogia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), por exemplo, não faz sentido vender livros de autoajuda para crianças que ainda não têm repertório emocional para se ajudar. “Nesse momento, as questões devem ser endereçadas por pais atentos e profissionais de psicologia”, diz. A precocidade moderna tem seu preço.