O governo da presidenta Dilma começa de fato em 2012. Ao menos é isso que se espera após a reforma ministerial e a faxina que culminou na demissão de sete titulares da Esplanada e deixou a administração à sua imagem e semelhança. Dilma escolhe agora os assessores diretos. Livra-se da acusação de dirigir o País à sombra de seu antecessor – que teria indicado muitos dos colaboradores do primeiro escalão. E dá o ritmo das negociações com o Congresso para o ano que vem. Ela não planeja rompimentos radicais com a base aliada. Mas trocará o jogo viciado de entrega pura e simples de cargos por apoios regionais aos partidos. Não é pouca coisa. Com o seu recorde de popularidade, conquistado justamente a partir da política de tolerância zero contra a corrupção e da imagem de executiva focada no trabalho, a presidenta pode impulsionar diversas candidaturas à próxima eleição. Dilma almeja um relacionamento político mais saudável em 2012, pautado em compromissos programáticos. Acredita que Executivo e Legislativo devem se entender no que se refere ao plano de realizações para o bem-estar da Nação. Nada de acordos pontuais, de interesse exclusivo dessa ou daquela sigla partidária. Ela já vem sinalizando esse caminho há algum tempo. Muitos acreditavam que o seu primeiro ano de mandato seria marcado pela tibieza de gestão. Enganaram-se redondamente. Ela impôs personalidade, sem receio de desgaste. Desde o primeiro dia evitou, por exemplo, os conchavos informais de gabinete, o tapinha nas costas de entendimentos com correligionários fora dos ritos oficiais. O rigor contra desvios também caracterizou sua con­duta e mostrou às lideranças que ela não aceitaria um relacionamento de dependência absoluta do Parlamento. Assim, enfrentando os cacoetes de um presidencialismo de coalizão, Dilma foi além das expectativas. E pretende se aprofundar nessa direção. Até aqui, paga um alto preço por isso. Muito embora conte com uma gigantesca bancada de deputados e senadores a seu favor, Dilma experimentou ao longo de 2011 um dos maiores índices de infidelidade quando da votação de emendas. Maior do que em todo o período dos governos FHC e Lula juntos. A vantagem dela é que em poucos momentos da história um governante enfrentou a oposição tão desarticulada e sem resistência como agora. Em 2012, até pelo acirramento de uma disputa eleitoral, muita coisa pode ser diferente.


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