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A culpa é da falta de notícias desta época do ano. Ou da aborrecida tendência que o ser humano cultiva de tentar adivinhar o que ainda não aconteceu. Fato é que as previsões para o próximo ano são pauta indefectível em toda a imprensa. É a praga do adivinhômetro. Todas as bolas de cristal ligadas. Um festival de bizarrices que só sobrevive porque nossa memória é curta. Não vou entrar nessa. Além de algum juízo, tenho um senso crítico superdesenvolvido.

Mas prestar homenagens é outra história. É bom passar o ano em revista e notar que há avanços. E que avanços se repetem costurando uma história boa de contar. Não se trata de prever o futuro, mas analisar o passado e apontar uma tendência. E, no caso deste artigo, uma tendência agradável. A do protagonismo feminino no Brasil.

Não sou pesquisadora, mas sempre gostei de ler pesquisas. Elas nos dizem muito do que precisamos saber sobre os movimentos na sociedade e sobre quem somos. E todas as pesquisas, inclusive aquelas feitas periodicamente pelo projeto Tempo de Mulher (www.tempodemulher.com.br), indicam que somos um país de mulheres cada vez mais poderosas. Mais alfabetizadas e, por isso, menos vulneráveis à força bruta masculina que durante muito tempo traçou o destino de tantas famílias de baixa renda no Brasil. Empregadas e com carteira assinada e, portanto, mais ativas nas decisões financeiras e de consumo domésticas.

Nada indica que isso vá mudar. Vejo as oscilações de um mercado que registra e teme as crises externas, que acompanha e desconfia das decisões do núcleo econômico do governo. E que, muitas vezes, decreta que a farra de consumo em prestações a perder de vista da nova classe média brasileira vai acabar rápido. Mas, ainda que todos os pessimistas estejam certos, o movimento feminino de tomada de consciência de seu poder não tem retorno. E os que desejam falar para essa mulher, hoje, devem focar no todo e não no detalhe.

Mulheres ainda ganham menos que homens na mesma função. A violência doméstica ainda é uma realidade no Brasil. Mulheres negras sofrem discriminação. Todos esses são pedaços do mosaico brasileiro e merecem nossa atenção. Mas nenhuma dessas questões, isoladamente, resume a mulher brasileira. E isso também é um fato. A nova mulher brasileira é a locomotiva que move a própria comunidade. Ela arrasta os filhos em direção à educação porque sabe que só educados eles terão mais chances do que ela mesma teve até aqui. Ela influencia os que estão à sua volta na hora do voto porque sabe que isso pode mudar o microdestino do lugar onde vive. Ela é otimista, é bonita, gosta de si e não quer representar uma minoria qualquer. Ao contrário, ela quer ser a maioria. Ela quer ser uma igual. Ela quer se incluir.

O momento de levantar bandeiras pela igualdade entre gêneros passou. A mulher já é o personagem principal de seu tempo – e ela sabe disso. Se você ainda não sabe, pesquise, estude, converse com a mulher média brasileira. Ela será, com certeza, a previsão mais bem-sucedida para 2012.

Ana Paula Padrão é articulista de ISTOÉ, jornalista e apresentadora